sábado, 24 de dezembro de 2011

A Garota de Bronze (Seios Deleite)

É só na minha imaginação?

Não, era uma loucura. Perdia-me nas tuas pernas e depois não sabia o caminho de volta, pelo que só me restava ficar e perdurar. Capturado? Nem por isso. De livre vontade, acertado com o tremor desnorteado de tuas ancas delirantes já que, curiosamente, depois de te fazer ultrapassar o limiar do tolerável começavam a falar num dialecto incompreensível. Misticismos.

Fruto da tua Imaginação?

Não, era uma intensificação. Chuvas torrenciais depois de encontrar a ligação directa entre os circuitos que iam dos teus halos magmáticos ao teu ventre vulcânico. Esse cujo pouco espaço restante estava ocupado pela minha batente veemência, profetizando a maior erupção de todos os tempos. Uma Obra inigualável, essa anatomia oculta de um precioso sistema sensitivo. Tocava aqui, acendias-te dali. Tocava ali, escorrias-te de ti. E que pesquisador te saí eu. Pior a emenda que o soneto, na tentativa desesperada de recuperar as rédeas, tu, aceleravas até ao Estado em que tua pele se tornava Bronze.

Inconsequente?

Sim, sempre fui, de outro modo e nunca teria entrado em ti. Quanto maior o precipício mais veloz se impele o mergulho aquando da queda livre. “E que não tenha nunca fim, pois assim me encontre na desintegração de mim”, era a minha Oração preambular. Até se consumar, trágicos lábios os teus que não conseguiam que os dentes atrevidos deixassem de participar também nos festins intervalares à cópula pura e dura. As coisas que fazíamos…

Incontinente?

Sim, era no que te tornavas, vencida. Compulsiva de Corpo e Alma, que Coração tão grande o teu que palpitava furioso até ao pórtico da tua Sagrada Entrada, trémulas as abas desfraldadas de seu juízo, fora de si. E abriam-se as Águas desvelando-se um Secreto Silêncio com milénios de reclusão. Se és incontida? Não, és Bem-Aventurada. Se sou especial? Não, encaixados somos ideais. Melhor que isso, reais.

“Porquê?”

Bramias tu entre a arritmia que te possuía. Porque sempre disseste que “não” ao que mais querias. E são pessoas assim como tu que se perdem, irreversivelmente, numa cama labirintificada de lençóis manchados pelas provas irrefutáveis do Amor que se Amou. Portais abrem-se dentro e fora de Nós, mais não se diz, não que seja interdito, mas porque não se sabe dizer. Só fazer.

(…)



There's a pain
A famine in your heart
An aching to be free
Can't you see
All love's luxuries
Are here for you and me

(Depeche Mode, Halo)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Drama de Maria Melancolia (Ser Mulher)

Quando você fala ou age de um modo que está em desarmonia consigo mesmo, cria uma resistência, e essa resistência é a influência das práticas hipnóticas. Ela contrai a natureza do homem e impede-o de expressar o que ele realmente é.

Baird T. Spalding, in Vida e Ensinamentos dos Mestres do Extremo Oriente.

(…)

Trocado em miúdos, quando ages num sentido que se opõe ao Apelo do teu Ser, emites uma vibração contraditória que Te desarmoniza Interiormente. Em última análise, repercute-se em distúrbio físico. Não digas ou faças uma coisa quando sentes outra, isso é como um acto de auto-agressão. Muito mais do que uma virtude, a honestidade é acima de tudo um modo de estar na Vida, um acto de auto-preservação, sensatez e Amor-próprio.

(…)

O ambiente não estava propriamente leve. Apesar do rapaz emanar uma certa paz, a inquietação dela era tão grande que parecia minar aquele espaço aberto com uma aflitiva nuvem de dúvida e resistência. Era um reflexo da sua Força descontrolada e mal canalizada.
- Repara numa coisa. Se passas a vida reprimindo sentimentos, é exactamente o mesmo que conter água numa barragem. Depois, das duas uma: ou a cada vez que abres as comportas dá enxurrada, ou simplesmente entra em colapso por excesso de carga acumulada!
Ela permaneceu no seu mutismo perturbador, com os olhos embaçados pelas lágrimas que seriam prelúdios de salvação se não as asfixiasse inclementemente.
- A Felicidade só virá quando fores capaz de assumir, viver e partilhar os teus sentimentos. Enquanto isso não acontecer, inevitavelmente, irás desembocar em situações lesivas rodeada de pessoas que de algum modo usam e abusam de ti.

(…)

Deteve-se esperando algum vestígio de contacto visual, mas ela não afastou o olhar da planta à sua frente.
- São Seres Vivos, pulsam como nós, maravilhoso, não é!?…
- Sim… A palavra esboçou-se de um desânimo.
Visto que não iriam sair daquele agueiro, fez o que lhe restava, tomar acção.
- Se negas ou pões em causa sequer a tua feminilidade estás em conflito com o Milagre da Vida. Repara que a Energia Universal manifesta-se através de duas forças polares, uma feminina, outra masculina, daí a Mãe, daí o Pai... É precisamente a descoordenação entre essas forças que causam o desequilíbrio que por sua vez te leva a esses desencontros com os gajos… Na verdade o desencontro é contigo própria… É tentador pensar que a culpa é deles ou do “azar” que tens… Mas é em ti, na harmonização dessas polaridades que tens que trabalhar… Quando souberes ser Mulher, chegará a ti um homem que saiba também ele ser Homem.
Medrou o derradeiro Silêncio antes da consumação.
- Já alguma vez aceitaste o desafio de tentares Sentir o quão Bela És!?...
Não foi ele, mas sim o que se manifestou através de si, o sentimento sem nome que reverberou com aquelas palavras. E como numa ode ao alívio, ela pariu as lágrimas. Correram pelo seu rosto deixando a forma de um sorriso cintilante atrás de si… Acabava de ser Mãe, de dar à Luz…

(…)

- Que flor é esta?
- Uma Orquídea…

- É linda, parece a Yoni…

- Sim…


(Orquídea, a Yoni Flor in http://www.berare.com/article-100)

(...)



(...)

Depeche Mode - When the body speaks

To the soul's desires
The body listens

What the flesh requires

Keeps the heart imprisoned


What the spirit seeks
The mind will follow

When the body speaks

All else is hollow


I'm just an angel
Driving blindly

Through this world


I'm just a slave here
At the mercy

Of a girl


Oh I need your tenderness
Oh I need your touch

Oh I dream of one caress

Oh I pray too much

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Corpo Luminoso (Do Outro Lado, Quando Sou)

Custou-me vê-la assim, tão desamparada, encolhida, chorando abandonada. Mas permitir que isso sucedesse, era a única maneira de ser coerente com o Amor que sentia por ela. Tinha que aprender. Descobrir que a dor que se inflige aos outros volta a nós, inevitavelmente, e por vezes quando menos se espera. Descobrir que por maior que sejam as mágoas, a revolta que se carrega, mesmo que isso pareça cegar e tolher toda a vontade de confiar e acreditar, não devemos jamais descarregar em quem nos estende a mão. No entanto, não deixas em momento algum de ser a criatura mais linda que o meu Universo já viu… Sentia que só podia estar ali e observá-la, que isso era o mais correcto. Um dia saberás da tua Condição, da Natureza da tua Alma, mas só tu poderás descobrir, ninguém o fará por ti, até lá, estarei aqui sempre que for preciso… Não me atrevi sequer a tocá-la, algo que tantas vezes fizera neste estado intermédio, desacoplado do corpo. Quantas vezes a abracei em momentos de angústia no escuro, como aquele, sem que ela fizesse a mínima ideia de que era acolhida por um Espírito Angelical que ali estava e lhe era Amoroso. Esse calor retemperante que já tens sentido, que já te tem salvo, sim, sou Eu… Prostrada ao choro, adormeceu de exaustão. Amo-Te para além dos limites do corpo, minha Querida…

Pestanejei, pisquei, tremeluzi, e saí do seu quarto cujo tecto tinha pintado um céu estrelado. Dei comigo no meio de uma rua movimentada da Cidade. Desfrutando da maravilha de não ter um corpo, deixei-me vaguear ao sabor das interacções. Olá!... Uma criança viu-me e riu descontroladamente de ingénua alegria, sem que os pais percebessem porquê. É agora, do Beijo de Olhares aos Lábios que Beijam… Um casal apaixonado sentiu o alento da minha presença e num uno arrepio se enlearam ainda mais. Força, companheiro, vai em frente!... Soprei ao ouvido de um homem maduro e no momento decidiu-se finalmente a largar tudo e partir, estugando a passada temente mas aliviado. Pestanejei, pisquei, tremeluzi, e saí do meio daquele lago de gente. Rumo à Paz Quintessencial… Dei comigo no Jardim dos Sete Suspiros. A cúpula de árvores. As corujas. Deste lado o seu canto é ainda mais belo. E elas vêm-nos. A mim e a todos os Corpos Luminosos que aqui se reúnem para o Concílio de Amor. Paulatinamente, sobe e desce, fiquei pairando sobre o relvado, misturando-me com o seu cheiro que deste Lado é tão encantadoramente diferente, sobrepujando a delícia e o frescor. Flutuei, nesta forma de puro Amor. Flutuei, flutuei, e flutuei… Durante toda a noite, flutuei na cadência da maré dessa Dança Angelical…

Pestanejei, pisquei, tremeluzi, e voltei ao quarto, ao corpo, caindo no adormecimento da matéria. Sonhos Serenos, Sonhos Plenos…

Hummm!?!??... Qualquer coisa cutucando a minha face, puxando-me os cabelos com gentileza. O quê?... A gata a rondar-me a cabeça entre miares e ronronados. Já sei, já sei, queres que me levante… A persiana atipicamente entreaberta devassa o quarto à luz matinal que já o inunda quase por completo. Sem qualquer tipo de recordação de sonhos ou imagens, acordo com aquela sensação de que terei andado de um lado para o outro durante toda a noite. Pés no chão. Triunfal, a gata sai disparada para a cozinha. Bom dia para ti também... Desperto o rosto e a nuca com água fria. Inspiro e expiro profundamente. Sento-me em meio Lotus e começo o dia com meditação. Eu Sou…





“She taught me to play the piano, and what it meant to miss somebody.”

Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Quem me salve (Tu?)

É verdade… Eu, o Super-Herói, preciso de alguém que me salve. Do quê? Do Mundo de Mim. Por isso venha quem me salve. Tu? Talvez…

Mas para isso tens que Entrar. Queres? Serás capaz?…

Distante do lar a que me habituei, privado do meu idioma natural por um esquecimento que me foi induzido, aqui numa Terra onde pouco ou nada se entende. Porquê? Porque quase ninguém atinge que a solução está numa cambraia tecida de Toque e Silêncio Elaborado.

Procurei a linguagem da ausência de palavras em ti e encontrei um reflexo do teu rosto estampado sobre uma paisagem em movimento. Formidável. Conheço-te. Já fomos um do outro, mas não sou de dar importância a coisas passadas. Agora somos, tão-somente. No entanto, sei que não há frio que possa resistir ao temperamento das linhas que abainham tuas feições.

Não é que se possa dizer que te Amo à distância, porque se o Universo é um Oceano só, então eu sou parte de ti. Qual? Essa mesma, que se torna melífera, que se propaga por todo o teu corpo quando estremeces até perder a noção de Ser.

Anda vem. E sê o final feliz do início da mais insondável das estórias, a Nossa.

Porque… Eu, o Super-Herói, preciso de alguém que me salve.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Vulnerabilidade (Sinal de Morte)

Toma, estou aqui! Faz de mim o que quiseres. Mas tem cuidado, porque aquilo que fizeres comigo é o que fazes com a parte de ti que é um espelho de mim. Não tenhas receio, sabes que te Amo. E se isso é assim, então há pelo menos uma parte de Ti que se Ama. Não é bom? Claro que sim, claro que é.

Perguntas-me, qual será o meu Sinal de Morte? Todos temos um. Há quem tenha escolhido uma Borboleta. Também já houve quem elegesse um Beija-Flor. Mas na verdade, e lirismos à parte, o Sinal é sempre algo de profundamente Íntimo, que muitas vezes escapa até ao próprio detentor ou detentora da senha. Mantém a vigilância. O Sinal da Morte é o mais importante detalhe, identificá-lo significa a possibilidade de saber morrer, renascer, viver e voltar a morrer ou de simplesmente Acordar, se for esse o Anseio.

Junta-se a Vida e a Morte, e têm-se um Orgasmo.





“Your life is defined by its opportunities... even the ones you miss.”

Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Esta noite vou Morrer (Obrigado)

Pronto…

Que boa noite esta para se morrer, fria e longa. Não tenho medo, sinto-me bem. Podia ter feito melhor, é verdade, mas fiz o que pude. Já chorei o que tinha a chorar, também ri o que havia para rir. Agora é viver até à última gota esta experiência que se aproxima do seu apogeu. É claro que já a tinha pressentido, a pessoa sabe sempre, mas agora estou a vivê-la, e isso muda o cenário por completo. Que a morte se viria a revelar a experiência máxima de Vida era mais do que previsível… Acima de tudo, sinto uma tremenda Aceitação, depois, um grande desejo de partir, Felicidade. É importante que se perceba, não se trata de uma vontade de fugir ou uma ânsia mórbida de morrer. Não. É um desejo de respeitar a Vida e partir desta casa que deixou de poder suportar os ensejos da Alma, e rumar a novas paragens, ver novas paisagens. Já nem o corpo dói, porque já não o sinto. Peguei-o de empréstimo e nem sempre o desfrutei, mas tive muito respeito e quase sempre gratidão. Concedeu-me a possibilidade de me expressar. “Toma, estou aqui, faz comigo o que quiseres, porque sou um plasmado de Ti”. E o que de mais elevado fiz foi tão-somente isso, Criar e Expressar… -Me…

Que Alívio.

Por Tudo perdoo a Todos, Tudo Perdoo a Mim. Nada fica por fazer nem por dizer. Está tudo bem. Sei que pode parecer estranho, palavras de ocasião ou simplesmente a graça de um privilégio raro, mas tem apenas a ver com Estado Interior. Os outros existem, livres e independentes, mas enquanto não compreendemos o Essencial parecem aquilo que nós achamos que eles são. E neste momento consegui essa proeza de ver a Gente tal como Ela é, nem mais, nem menos. Se o Universo Eu Sou, então tudo o que vi era Eu. Ao Aceitar-me na vida que fui, tudo Aceitei. É por isso que volto a dizer… Não há mal algum, está tudo bem. Calma e Paz.

E os olhos já se me mudaram de cor. Já são só um Brilho naquela intensa tonalidade em forma de Flor…

Sei que escolhi a melhor noite para Passar. E não me vou esquecer da dica que me foi dada… “Quando conseguires parar o fluxo e o refluxo do Mar, chegaste”.

Últimas palavras?... É Bom Morrer.





“You can be as mad as a mad dog at the way things went, you can curse the fates, but when it comes to the end, you have to let go.”

Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Calma (Muita Calma)

Noite. Ouço o canto das Corujas. Estamos em Novembro e as folhas ainda mal começaram a cair das árvores. Isso deixa-me desconfiado.

Mas...

Calma. Muita Calma.


(‘Coração Caído, Coração Erguido’, Jehoel)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Outro de Tantos Capítulos (Eu e Tu, o Essencial)

Outro de Tantos Capítulos, Só mais Um, O Essencial:

O Fogo precisa da Água tanto quanto Essa precisa Dele. Porquê? Para que se transcenda a manifestação ordinária das coisas e Aconteça o Vapor.

E assim discretamente, volto à Alfazema, desta feita incensada.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sem saberes quem Sou (Estou)

Vi-Te. Deitei-me sobre o manto de relva que se estendia de mim até ti, tudo só para te poder Tocar o Pulsar. E de algum modo pressentiste-me, e gostaste. Porque naqueles momentos te sentiste Especial sem que houvesse razão para tal. Adorada Pulsação.

É assim o teu efeito sobre mim. Não sei o que saber, porque o que sinto não é do domínio do Sentir. Bela quando sorris, linda quando amuas. És o Ponto de Intersecção, Fruto do Amor consumado entre a Guerra e a Paz num intercurso de intensa Paixão. Pois Sabedoria é entender que Homem e Mulher se ardem até à Anulação.

Deixei-te um Bilhete de Amor, escrito com um Sopro no Ar, de seguida ausentei-me. Fui ver vidas passadas e vidas passaram. Só o Presente conta. Estamos Aqui. Eu Sou. Tu És. Nós Somos.

Renovado, mas sem dizer como nem porquê. Preparado. Saí, a pé como sempre, e recebi de peito aberto o debutar anual do cheiro a lareira no sonoite da Vila Encantada pelo seu Coração de Luz Lunar. E para celebrar, de Alfazema uma Infusão. Encho a tua caneca pintada de cores palpitantes e deixo-a ao meu lado para assim que chegares.

Até lá, já lá estamos.


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Da Dança (Ao Desaguar do Néctar em tua Flor)

Onde estive? Isso interessa se agora estou?

E se for bom demais? Isso interessa se o que não conhece começos jamais conhecerá finais?

Em verdade, o que poderá importar, se realmente nada interessa…

Banida a conversa, porque há quem Ame odiando a retórica, veio a Dança.

E foi descobrir que A tínhamos em nós, que velozes nos tornávamos Nela bastando que déssemos as mãos… Como um Círculo que se fecha dando à Luz o Sentido afinal!

Quando sobrelevámos a moção excedida, comoção!, olvidamos a Vida e a Morte. Alcei-te aos meus braços e tu, de pernas trancadas em mim, ainda tentaste a derradeira resistência que até então nada mais havia feito do que afirmar o teu desconcertado desejo de rendição. Inconsequente, faltaram-te as forças que a mim sobraram. Pois aí já o Mundo não o era, ascendido a um impulso onde não há Dia nem Noite, apenas os matizes dos nossos sons rasgados de prazer. E também as roupas foram condenadas à expulsão perpetua, tendo se pulverizado estilhaçadas pelo nosso avanço.

E sobre uma pista incandescente, a Dança continuou. E sobre um palco incendiado, a peça sobrepujou. E quando esperavas uma direcção sabida, também eu me surpreendi a mim mesmo, abdicando ser o rumo conhecido, lançando-me ao desconhecido.

Foi quando, lendo a entrega com que se abria o livro das tuas já desprotegidas ilhargas, avancei pronunciando beijos versados com um propósito insular…

Ultrapassadas tuas pernas com estes lábios que só conhecem Poesia arremessada para ti, deliciei-me em tua Flor. Beijei-te as pétalas carnudas vibrando-as, e de tanto te deliciares, incontida, desaguaste com o Néctar jorrado.




(…) acércate a mí
abrázame a ti por Dios

entrégate a mis brazos. (…)


(Pasion, Rodrigo Leão & Lula Pena)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

“Penélope” (A Ascensão da Gata que Morreu por Amor)

Clave do Sol…

[Assim que o salão ficava vazio, só nós e a acústica angelical, sentava-te ao meu colo. Pegava nos teus dedos, tu sorrias fingindo um embaraço que sentias, e fazia-os acariciar as teclas de marfim de um lado. Do outro, minha mão solta sobre o que restava de notas e sustenidos liberando a novela de sons solventes ao dorso da qual nos elevávamos…]

Serena, há algum tempo venho sentido, floriu, chegou a hora, vou contar-te a tua estória.

[A pouco e pouco, tu seguias tocando o piano.]

E se tivesses amado tanto que sentisses não conseguir ir mais além? Sem mais Terra, Céu ou Mar para desvendar, o que restaria? Por embaço ou angústia, poderias pensar, “nada, nada mais poderá restar”… Foi assim que ficaste, límbica…

[Lentamente, como o Céu que se põe antes do laborioso pranto do prazer, eu chovia com a melodia.]

Morreste de tristeza, exaurida, silenciosamente foste finando a tua Luz até apagar… Porque te negaram o Sopro Vital da Alma, ser Amada. Pelo ciúme e perfídia dos outros, tu e o teu Amor foram separados em vida. E por ignorarem a morte que sobreveio, estiveram desde então lado a lado. Ambos o sabiam, mas nenhum o aceitava, porque nunca o quiseram ver. Ligados pelas costas, deixaram-se andar, espectrais, vida após vida, ignorando as sucessivas mortes, cada um no colo da melancolia do outro.

[Aspergia teu corpo com o meu e logo despontavam flores em ti. Flores que colhia e desflorava, pétala a pétala. Ah! Primavera...]

Fantasmas do Amor. O tempo todo em que pareceu que estiveram amarrados foi mesmo tempo. E foi por isso que ele te dizia quando falava sozinho: “Parece que tens andado sempre aqui e eu aí”. E foi por isso que te parecia ouvir um sussurro familiar atrás de ti…

[Roupas jogadas ao chão, corpos germinados um no outro, sobre o piano, um imenso jardim no interior de uma caixinha de música onde o par de bailarinos dançavam lentamente rodopiando. Quem eram não pode ser dito, porque o Ser é feito de Som e não de palavras… Que eram sublimes Sonâncias só possíveis ao sentir transcendido, é só o que pode ser testificado…]

“Mas é preciso que continuemos a ser só em Nós?”, perguntou Ele, “Quando podemos ser em Tudo?, respondeste tu. É por isso que digo: “Vai, ascende”. É por isso que prometo: “E assim voará Ele também.”

[Já as luzes da Cidade Luz bruxuleavam sentenciando a brevidade do sonoite e o augúrio do serão, quando disfarçadamente arrumávamos as pautas. As roupas, agora cúmplices, ajeitadas para esconder os vestígios do Amor que ficavam abafados rente ao corpo, sobrepujando-o até ao próximo encontro, que ficava logo selado pelo vinculo entre olhares. Até lá, era aguardar, entre sonhos e suspiros…]

Agora que deixaste que te lavasse os olhos em Água de Rosas e que tive o cuidado de deixá-la escorrer até ao teu Coração… E se te disser que agora são renascidos, que vos sei andarem por aí, na rota um do outro. Tão perto, tão perto de se encontrarem… E se te disser isso?...

[Entretanto, seguiam-se os dias em que o Piano descansava…]

Essa Luz Quente Maternal que sentes, sim, deixa-a envolver-Te… Sim, eu sei, é Maravilhoso. Boa Viagem, Serena, segue Sorrindo…

[Mas o som, escondido no Éter, esse permanecia dançando pela sala.]

Barra dupla.



(Beth Gibbons - L'Annulaire)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Analgesía do Amor Físico (Catarina, a Heroína)

Primeiro Acto – A Cúpula do Amor

Primeiro fechamos as persianas. Mas deixamos ranhuras tácticas criando interstícios geométricos que se sucedem em linhas paralelas. Porquê? Para que possam entrar nesgas de Luz e gerar misteriosos padrões espectrais sobre os nossos corpos que, não tarda nada imiscuídos, são pauta de inolvidáveis ritmos supra musicais.

Porque é isso que somos, um Manto Espectral de Cicios Libidinosos…

Desprovidos de trapos e cobertura, fecha-se a Cúpula no interior da qual nascerá a Cópula.


Segundo Acto – Celebração de Corpos

À medida que nos vamos brindando, brincando aos preâmbulos do Amor, andamos, deslindamos… Mais não sei dizer, só fazer… Fazemo-nos, como tal. Sei no entanto que Te desvendo com extremidades, que Me desvendas em concavidades. Trazes-me a Ti. Repeles-Me. Empurro-Te. Puxas-Me. Um jogo de fazer Sede e saciá-la, só para criar mais, e mais, e mais… E bebemos a Água que vem Chuva e que a julgar pela ausência de nuvens só pode chover de Nós. Somos o Céu e a Terra. Precipitamo-nos Chuvada lá de cima, até chegarmos cálidas gotas aos nossos corpos cá em baixo. Mas mesmo essas logo se evaporam no instante do embate com a pele magmática. Portanto, somos o líquido, o volátil e o êxtase da transição que casa os dois estados na sua continuada confluência*.

Mas não fica por aí. Óh, se ficasse!... Essa precipitação sobre os nossos corpos que não param de se precipitar é um Movimento de Eterna Expansão. Sem que mais alguém saiba, porque para isso seria preciso que mais alguém existisse, chamamos-lhe a ‘Celebração Amorosa’ ou quando perdemos o tino a ‘Celebrosa Amoração’. Porque aquando do êxtase, nem as palavras restam, só o Som.


Terceiro Acto – Catarina, a Heroína

E porque jogamos aos nomes, já que ninguém sabe quem nós somos, onde estamos e como Amamos. Porque a nossa missão é só Pulsar**. Tu segredas-me ao ouvido com a ponta da língua, e entre estalidos e crepitações húmidas, revelas-Me o nome do dia… “Catarina, a Heroína”.

“Meu Amor, minha Heroína. Analgesia Nirvânica que despertas este bom e amante Coração. Completemos nossa coroação fechando o circuito.”

Então, de Imersão em Emersão, abafamo-nos de tanto Calor indiferenciado, não sei o que é Teu, nem Tu o que é Meu. Perdidos os saberes, de Amor em Amor, aprendemos a respirar na ausência de ar. E é aí o Ponto. Dá-se a Cessação e vem*** aquele Som em que nos tornamos e deixa de haver Tu e Eu. Só o Som, tudo passa a ser essa Vibração.

Heróicos.





* comunhão
** Irradiar
*** irrompe


Post Scriptum: Em três Actos. Herói que Chove e volta a Chover Heroína.

domingo, 17 de julho de 2011

Rádio (O Rapaz que só sabia Amar)

Era como uma geringonça que transmitia numa frequência invulgar, por isso lhe deram o nome de Rádio.

Era doce e amoroso. Sorrindo um sorrido que reverberava num padrão subtil.

Rádio só conhecia o Amor. E mesmo quando lhe diziam, “Rádio, és Idealista, tem cuidado, não estás no mundo angelical”, ele não fazia caso.

Porque no fundo Rádio sabia muito, ao contrário de toda a gente que teimava em aconselhá-lo, porque quem mais aconselha menos sabe. Mas Rádio sabia mesmo muito, e por isso estava sempre calado. Limitava-se a emitir, silenciosamente, Ondas de Amor. E só quem entendia ficava ao pé dele, os que não eram tocados iam-se, mas não há mal, o seu tempo a cada qual!

O que Rádio transmitia era tão maravilhoso, um Caleidoscópico de Sons, palavras sem significado que formavam um Idioma Poético livre de tradução. E por isso, Rádio apesar de não o dizer emitia: “não pensem, não analisem, não interpretem… sintam… só!”.

Rádio, o Rapaz que só sabia Amar, e que apesar de ser uma estória do passado, ainda está para chegar. Na verdade já cá está, e sempre estará, aparecendo apenas para quem conseguir e se deixar Tocar.

Obrigado. Eu Amo-Te, Rádio…





Post Scriptum: poderia pedir-te desculpa pelas vezes em que te ofereci coisas só porque gostei delas. Mas acho que isso é precisamente o que pouca gente faz. Já reparaste que quase sempre se dá algo a alguém na expectativa que seja uma coisa que vá de encontro ao seu gosto? E se começássemos a presentear-nos com novidade e o inesperado? Não seria dar um passo em frente? Passar de um mundo de hábitos, a um planeta de espontaneidade e magia?... Aqui fica, se quiseres aceitar, é tão somente uma Reverberação do meu Coração!

sábado, 16 de julho de 2011

A Noite é das ‘Miúdas Maduras’ (Quem é Ele?)

- Quem é ele? Interrogou-se num pensar em voz alta, misto de sobriedade e fascínio.
- Não sei. Respondeu terminante, como se pretendesse “cortar pela raiz” algum tipo de “mal” que só ela podia ver.
- Não fala muito, pois não? Manteve-se incólume na Vibração em que estava Sintonizada.
- Não sei, costuma estar ali quieto…
- Acho-o giro! Focada nele, disse-o com o brilho que raiava dos seus olhos de claro angelical.
- Tu e a tua atracção por gajos estranhos! Repreendeu a amiga, já sem qualquer pretensão de a dissuadir a sair de um ‘Espaço Onírico’ de onde já não seria possível tirá-la.
- Óh pá, não é isso!… Insistiu, de beicinho, como quem transmite de outro Plano.
- O que é então? Retorquiu enfim conivente, esforçando-se sem sucesso para encobrir um sorriso inevitável.
- Tem qualquer coisa… Há qualquer coisa com ele, acho-o especial…
- Pois, pois, vamos é embora daqui antes que te percas de vez!
Ameaçando primeiro com cócegas, despertou-a, depois foi puxá-la pelo braço e fazê-la correr consigo em direcção ao centro da Vila. De mãos dadas, correram juntas, rindo-se a meio com os passos ofegantes. A Beleza da juventude que para quem saiba viver é não menos que eterna. A noite era de verão, por isso pedia que fosse vagueada por ‘Miúdas Maduras’ movidas a Sonhos do Coração…


Sim, é Amor…
A Ti dir-Te-ei o meu verdadeiro Nome.
Na verdade, já o trazes dentro de Ti…
Até lá…
Sonha Princesa… E vive.




Desculpa (Ser Sorriso Andante)

Não faz mal, às vezes erramos. É bonito pedir desculpa, mas se a outra parte não aceitar isso já te ultrapassa. Segue o teu caminho, ponto final.

Do mesmo modo, não fiques à espera que te peçam desculpa, mesmo que aches que era tudo e só o que bastava. Isso significa ficar parada e o que se pretende é que sigas caminhando.

Desencanta as decepções. E encanta com teu Sorriso Viajante.

Ama-Te o quanto Te Amo-Te.

Sê Sou.





Post Scriptum: Já te disse que nos teus cabelos trazes as cores da miríade de Brilhos que vêm do Céu?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Oriente junto ao Coração (Um Beijo de Luz)

Um Ensaio. O assopro de vento brando vinha serpeando por entre a égide da ramagem das árvores, aliviando-as dos últimos indícios de razão e preparando-as para conhecer a noite lunar, logo após o repouso solar, e então começou o que não tem começo…

O Evento. Assim nasceste dançando, e eu respirando essa tua Graciosidade enquanto vinhas em minha direcção e codificava a tua existência em Poesia, o único Saber capaz de te descrever, Princesa Oriental…

A Deusa. No quente dos teus Beijos Orientais, soube que nessa imensa trança guardavas o ondulado dos teus cabelos onde já me fiz ao Mar, e Revelou-se-me o porquê da minha ancestral Religião às Ondas, voadora tua sedosa penugem…

O Devoto. No aroma moreno da tua pele Oriente incandescente sou o leitmotiv dos cataclismos que de ti brotam nos mementos de prazer, de uma cor que nunca alguém conseguirá extrair, intenso brilho afago, maquilhados olhos tatuados…

A Estória. Fazemo-la nós no Espaço Silencioso dos nossos gemidos lânguidos sempre que o mundo está dormindo e nós Amando, e assim o sustentamos com a Força que emana essa nossa junta fricção, seios exóticos arrebatados…

A Eternidade. Sem se perceber como, mesmo sem se compadecer com o entendimento terreno, o vento voltou ainda mais sereno, cansado da paixão ardida, pleno do Amor celebrado, sussurrando vestígios do que se passou e ninguém notou, a devoção à Cúpula da Entrada Sagrada, e então não teve final o que não conhece fim …

(...)

Te Amo-Te

(…)

Abandona a mete que pensa em prosa;
Reanima outra espécie de mente que pensa em poesia.

Põe de lado toda a perícia em silogismos;

Deixa que as canções sejam o teu estilo de vida.

Passa do intelecto para a intuição,

Da cabeça para o coração,

Porque o coração está mais perto dos mistérios.


Osho, in Intuição

(…)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Revisitando o Perdão (Olho por Olho, Dente por Dente?)

- Pensa em alguém te tenha feito realmente mal. Falou abrindo uma insuspeita tonalidade de desafio.
- Sim.

-O que te deixa mais sossegada em relação ao assunto?

- Saber que ela inevitavelmente vai pagar pelos seus actos!

- Então imagina que entretanto ela toma consciência do que fez, sobe um patamar em direcção a um Estado de Graça e concretamente não “paga” pelo que fez, dentro daquilo que para ti seria expectável. O que tens a dizer sobre isso!?

- É injusto!
Protestou algo indignada.
- É injusto que uma pessoa tenha percebido intimamente o quão negativos foram os seus actos e que tenha passado a um patamar à frente, fechando a possibilidade de os voltar a repetir, quer seja contra outros que ser seja contra si?

- Acho que sim, acho que ela tem que pagar...
Retorquiu já num tom diferente, a caminho da Aceitação.
- Esse é o teu problema. Enquanto te servir de consolo que os outros “vão pagar pelo mal que fizeram”, enquanto não aceitares que mesmo esses têm o potencial e o direito de se redimirem mesmo que não seja através do sofrimento que achas que deviam ter, enquanto isso acontecer estarás a impedir a ti própria que o mesmo suceda contigo, além de que só estas a perpetuar a tua ligação a essas pessoas.


(…)

O "olho por olho, dente por dente" equivale aos ciclos de vingança em que nos vemos presos durante vidas. Muitas vezes processa-se de um modo consciente, quando activamente procuramos ferir aqueles que sentimos que nos feriram. Mas quase sempre se processa inconscientemente e essa é uma das grandes causas do famigerado “desencontro”: a pessoa fica presa num ciclo em que vai intercalando o papel de vítima e vitimadora; numa situação é subjugada ou visada por alguém que tem a etiqueta de “mau” ou “má da vítima”; quando finalmente sai desse lugar insustentável, encontra alguém que tem a etiqueta de “bom” ou “boa da fita” mas aplica-lhe exactamente o mesmo tratamento negativo a que foi anteriormente sujeita; para resolver isso há que reconhecer o seguinte, quando saímos de uma situação “má” para uma “boa”, abre-se um hiato entre as duas que representa a possibilidade de resolver a anterior e abraçar a nova com outros olhos, ou seja, uma porta aberta para quebrar o padrão cristalizado; porém, quase sempre se perde a oportunidade que se abre com esse hiato continuando-se o padrão; para interromper o ciclo e acabar com o “desencontro”, tem que haver uma tomada de consciência profunda, resolver conscientemente o passado, para estar integradamente no presente e assim abrir um futuro genuinamente novo.

(…)

Sei que a palavra amor parece muitas vezes vazia e que ficamos sempre aquém quando se trata de expressar continuamente esse sentimento, mas acreditamos realmente que, se procurarmos humildemente essa experiência, podemos entrar nela e sentir o mesmo que na montanha. Somos elevados acima das nossas vidas passadas e transcendemos todos os erros que cometemos. Ficamos renovados e mais inteiros. Para mim, esta experiência deu-me a sensação de um regresso a casa, quando ficamos finalmente libertos de todas as coisas que desejaríamos não ter feito. Há uma sensação de que, quando atingimos esta Ligação, podemos recomeçar. (…) Ensinamos que todo aquele que queira vir para casa e começar de novo pode encontrar essa experiência, mas isso significa refutar a ideia de olho por olho. Como vimos em Secret Mountain, num estado de consciência mais elevado, não há justificação para um Ciclo de Vingança, a menor possibilidade para ele. A verdade é que temos de permitir que todos possuam a capacidade de mudar, de serem redimidos num abrir e fechar de olhos.

James Redfield, in A Décima Segunda Revelação


(Desencontro: "de pernas para o ar", Jehoel)

domingo, 10 de julho de 2011

Te Amo-Te (Explicando os “Te’s”)

Um “Te” para mim, “outro” para ti
Assim sem saber quem É quem
Seremos sabendo que somos mas desconhecendo quem

Um eixo no centro de um movimento de rotação
Acelera e desacelera, tem a ver com ritmo, vibração
O Anti-Rito, um Princípio de Fricção
As vogais continuam
As consoantes descontinuam
Se abrires completamente entras em colapso
É por graus de ejecção
Tu Sabes
Eu Te Amo-Te

Um “Te” para mim, “outro” para ti
Assim sem saber quem É quem
Seremos sabendo que somos mas desconhecendo quem


quinta-feira, 30 de junho de 2011

Princesa Mononoke (Não fiques pelos Versos)

É através da Voz. Tem a ver com Som, as Vibrações…

Tu vais perceber.

Estou Aqui, Estou Aí. Abraço’T’Amo-Te.


Post Scriptum: Não leias os Versos, sente-Os na sua EssÊncia. Para Além d’Eles.

Post Post Scriptum: Ê.





“Minha Princesa Monokoke”
“Vou Amar-te até deixar de existir a palavra amanhã”
“O teu Ashitaka”

(Ashitaka e San, Jehoel)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cumplicidade no Chamego (Sobre as ‘Ligações’)

Aconchegados num dos seus Lugares do costume. Um melro pousou afoito e curioso como se para ele não houvesse ocasiões para o que quer que seja, como se o mundo fosse um lugar mágico onde tudo simplesmente se limita a Acontecer. Olhou-os, como se os tivesse reconhecido, piou algo no seu idioma indefectível e saiu voando, ascendendo e descendendo no ar com a leveza de quem vive dançando sem precisar de saber o que é Dança.

- O mundo seria um lugar bem mais pacífico se entendêssemos que a repulsão é um tipo de ligação… E por vezes bem mais forte do que a atracção.
- Isso é a maneira subtil que encontraste de me dizer que é por isso que os ‘fantasmas encarnados’ ciclicamente voltam ao palco da minha vida para me atazanar o juízo?

- Vou deixar as conclusões ao teu critério, Princesa…
- E eu vou tomar isso como um ‘sim’…
Ela ficou calada, esperando que ele pronunciasse as palavras imbuídas de Amor que para ela, mais do que isso, eram as sapienciais do costume. Conseguiu até se evolar o limite da sua angélica paciência.
- Vá lá! Diz lá o que devo fazer?
Protestou gesticulando com as mãos que pareciam modelar algo de insondável na atmosfera.
- Não seria melhor que fosses tu a descobri-lo por Ti própria?

- Sim, eu sei! Mas não me apetece esperar! Ajuda-me!

Riram-se porque estavam coordenados nas Almas, e por isso no aninho mútuo que partilhavam com a aura daquele Reduto Sereno que os acolhia sempre como se fosse a primeira e única vez.
- ‘Fugir’ é diferente de ‘sair’, ‘entrar’ não tem nada a ver com ‘forçar’… Acho que deves aceitar esses “fantasmas encarnados” tal como são, ou de outro modo hão-de sempre voltar, seja na forma deste ou daquela. Não tentes fazer o que quer que seja para os mudares, porque na verdade a mudança só virá se acontecer em ti.

- Quando eu conseguir Estar sem sentir repulsão ou atracção, serei livre daquilo que me faz fugir quando sinto medo e do que me abduz quando me sinto seduzida…
- Pelo menos é o que sinto, Meu Bem…

Cheia de mimo, esticou-se até deitar por completo naquele banco encantado, que de tão bem conhecer os Amantes já os tinha como parte dele. Aninhou a cabeça no colo do rapaz e procurou o Céu. A brisa do final de dia, hora nobre dos namorados e namoradas, despenteava-lhe o vestidinho leve e claro de Verão. O Horizonte era todo Ele um painel inenarrável de cores deixadas pela passagem do Sol que do outro lado do globo já começava a prenunciar a chegada do dia. São assim os Ciclos...




Post Scriptum: É a única coisa que posso dizer, que ela tem cheiro de Magnólia...

sábado, 4 de junho de 2011

Tu e Eu, Eu e Tu (Corpo Arco-Íris)

- Não penses tanto, não vale a pena. Disse ela sorrindo silenciosamente. Como podes querer saber acerca de um ‘lugar’ que desconheces porque nunca ‘lá estiveste’?
Uma coruja entoou o seu canto sábio, trazendo poesia e sincronicidade.
- Portanto, resta-te lá chegar, e quando isso acontecer, vais ver que de nada valeu a pena especular, porque o de ti que tentava perceber já não existirá, e terá dado lugar a um novo e mais subtil Ente.
Ele assentiu sem precisar de qualquer tipo de gesto. Limitou-se a inscrever com o dedo um símbolo de Amor nas linhas da mão dela.

Depois deslizou seus dedos por entre os dela, até as mãos se entrecruzarem, deixando guardado entre as palmas o calor das suas Almas Amantes.

Escoltados pelos Seres de Luz, seguiram passeando pelas ruas encantadas de Cíntia, imbuídos do Espírito Nocturno, seus sons, seus suspiros etéreos. Não pronunciaram uma única palavra. Andaram de mãos dadas num silêncio supremamente melódico.

Nessa noite chegaram à sua singela e acolhedora casa. Acenderam velas perfumadas que tingiram o quarto de tons quentes bruxuleantes, e Amaram-se como se não houvesse tempo e espaço.

No dia que amanheceu já não existiam, nunca mais ninguém soube deles. Ter-se-ão transformado num só Arco-íris que poucos conseguirão ver.


(Nú Arco-Íris, Jehoel)

sábado, 21 de maio de 2011

Poesia para desobsidiar em Três Actos (Fogo Posto)

Primeiro Acto: Rosas Amarelas? (Sentado num Cemitério de Vidas Passadas)

L Com um escaldão nos lábios, vá-se lá saber do quê… B

O Por cada foto que tirei do altar, fiquei cada vez mais próximo de mim, agora que está quase vazio, estarei quase em mim. Experimenta adivinhar! E

B Não quis saber de mentiras, nem que fossem verdades, daí que não tenha prestado atenção aos teus alimentos fora de prazo de validade. Mas não é por isso que deixas de ser bela e sinuosa! Isso, porém, dura o que durar…I

O Pensei com um sotaque, mas falei no linguajar de sempre, estou só me guardando para o auge do melhor que já está em curso. Há coisas acerca de ti que não devias ter ouvido, se ao menos tivesses tapado teus ouvidos com tuas mãos… J

T Não esperaria nem que fosse paciente, por isso rio perante a insistência de teus desabitados lamentos e visto-me de impaciente. E tu de coitada doente, não estaria na altura de mudar de roupa, nem que seja perante o risco de se colar em definitivo à tua pele que até é nívea!? A

O Não acertei todas as capicuas por um número ao lado, falhei!? Estarei desacertado? Não, estou bem! É por isso que já te tenho dito que tens a subtileza de um comboio a todo o vapor mas fora de carris! N

M De que interessa a vestimenta se o que conta é o que está lá dentro? Já percebes o porquê da minha ausência total de estilo!? Uma sugestão: deita fora a máscara de coringa, faz com ela uma fogueira que queime a noite inteira, e de manhã recebe pela primeira vez em tua vida raios de sol sobre o rosto revelado. Não pediste sugestão alguma? Na boa, isso é problema meu! D

I Abdiquei de ser o dono do trono, o Pai do mundo, porque o que eu quero é ser Livre, por isso vou abdicar disso também. Entende-se? Também é irrelevante, porque se resignei serei outro, e do mim de antes terás apenas uma memória, a menos que estejas disponível para abraçar o novo em tua vida. O

Z Combino mal as cores? Quem te disse que as cores foram feitas para combinar!? Já experimentaste olhar à tua volta com os teus olhos e não com os que os outros te deram? Experimenta e vê!... C

A Deitei-me e contei, como os números nunca mais acabavam de continuar cansei-me e decidi dormir e Sonhar. Eram imagens de um Anjo sobre um Dragão, mas que eram precisamente manifestações “diferentes” do mesmo. É aí que está o entendimento. Não sei se estás a perceber… O

O Tudo em seu devido tempo, tudo em seu devido lugar, excepto para quem renunciar, que em verdade é sinónimo de abdicar, pelo que a estas horas já me repito. Então está na altura de ir porque se abre uma Brecha, e apesar de ser praticamente impossível, mais inverosímil que essa impossibilidade, só mesmo o tamanho da minha vontade renunciada. Tu? Talvez fazer o que melhor entenderes… M

S Mas no meio disto tudo, tudo está bem! Porquê? Ora… Porque… Eu… Com um escaldão nos lábios, vá-se lá saber do quê… P


Segundo Acto: O Acto de ‘Des’ (Coisificar)

M Não me apetece. Integração de Opostos. "Partida, Lagarta, Fugida". Desobsidiei. Inté. A


Terceiro Acto: Posfácio (Novo Rumo, Brecha)

E - E se de repente surgisse a oportunidade de escrever um novo rumo? O que farias? Arriscarias? I
D - Isso é uma pergunta para uma oportunidade que se abre no aqui e agora? X
O - Sim. Ã
S - Então a minha resposta é “Sim”! O




Post Scriptum: Poesia para não Ler, poupando-se assim o trabalhado de a Esquecer! Entretanto vou até lá que deixei os lábios a Aquecer...

sábado, 14 de maio de 2011

Das Papoilas ao Surf (Casar?)

Hoje foi um dia especial. Fiz a barba bem feita. Das Papoilas ao Surf, num abrir e fechar de olhos. Raios de Sal para bronzear. Banhos de Sol para salgar. De onda em onda, as únicas mulheres por enquanto capazes de tolerar esta minha Vida vivida a Poesia. Obrigado, meus Amores.

E soube da notícia de uma miúda que não conseguia parar de misturar seu rir com seu chorar, só porque o miúdo seu a pediu em casamento.

Agora é “Alta Noite” e súbita mas serenamente percebi algo que há demasiado tempo era demasiado óbvio, tão perto que só por isso não conseguia ver. Um Perfil. Mas está tudo bem! E com aquela ondulação que fica a cochilar no corpo depois de um dia no mar, proseio filosofias, alegorias e alegrias com o meu amigo Sono.

Entre versos que seguramente hão-de ficar para um outro dia, já que agora é noite, deixo o que abaixo transcrevo e que é teu por direito, fica aqui para quando o quiseres vir buscar.


Dois de mim, de mim dois de ti
Alguém aquém, por não ter feito bem!
Depois da vida, a vida dois a dois
Mais além, e vamos nós também

T’Amo-Te, T’Amo-Te, T’Amo-Te

De fio a pavio, a gata com o cio
Chama-se Paz, e no Amor é tenaz
Chama arde, no peito que Ama
O Meu é o Teu, e o Teu é o Meu

T’Amo-Te, T’Amo-Te, T’Amo-Te

Dois de mim, de mim dois de ti
Alguém aquém, por não ter feito bem!
Depois da vida, a vida dois a dois
Mais além, e vamos nós também


Está feito. Ao fundo o canto das rãs coaxando que só eu consigo ouvir. E já segui em frente. Uma Árvore que Amo Devotamente. Porque já sei como é, não tarda nada e chega a hora de “descolorir”, e penso sempre que afinal até passou rápido. O Paraíso é atrás daquele sítio com que sonhava quando era menino. Mas até lá, enquanto estiver “colorido”, venham daí as cores.





Post Scriptum: E porque sou humano, hesitei… Mas no final superei.

Post Post Scriptum: Já acabei, vou sair agora. Não tarda nada e estarei aí, junto a ti, nesse lugar que sempre guardas dentro do universo que se estende debaixo dos nossos lençóis.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

InÊs (Era uma Vez)

Era uma vez InÊs…

Sempre que InÊs passava junto a um candeeiro de rua finado, ele se acendia.

Sempre que InÊs sorria, quais cabelos com a Força da Luz, toda a Criação Luzia.

Sempre que InÊs acordava, a manhã se erguia, toda a vida se perfumava.

Sempre que InÊs cantava, todos os coros angelicais silenciavam para ouvir essa tal de Numinosa Melodia.

Sempre InÊs…

(Algures InÊs, Jehoel)

Uma vez toquei a mão de InÊs. Pele branca e macia. Ela pediu mais. Eu fui. Fomos…

Era uma vez InÊs…





Deixa eu dizer que te amo, Deixa eu pensar em você, Isso me acalma,
Me acolhe a alma,
Isso me ajuda a viver

(Marisa Monte, Amor I Love You)


"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

(de O Primo Basílio por Eça de Queiroz, declamado por Arnaldo Antunes)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mónadas (De Repouso)

Mónada Primeira (Precipitação): Chovem Pétalas neste Jardim. E eu estou deitado. Olhos fechados. Vejo tudo Aqui Dentro. Vejo-me como se estivesse fora de mim. E percebo como sou quando penso que estou a Ser. E ocorre-me dizer algo a alguém que não sei quem possa ser, quem sabe uma pessoa, quem sabe até eu, ‘Anda, vem Abrir o Céu comigo, para deixar o Brilho do Sol passar’.

Mónada Segunda (Vigília): Onde? Estou aqui. Estou no Coração. Sou esse Calor. Podes experimentar deixar que Te tome. Agora estou sorrindo. Olhos de tonalidade invulgarmente clara. Mais não digo, nem que soubesse. Ah, apanhei-te!

Mónada Terceira (A Alma Pitagórica): Cai, decai, grau, degrau. Cálculo, Álgebra, Geometria e afins. Enfim, Matemática. Quem souber fazer contas, sabe tudo. Sim, pois. Pois, sim. Mas isso não é para mim, o que não quer dizer que não seja para ti, terás que averiguá-lo tu. Ah, apanhaste-me!

Mónada Quarta (Atrás dos Montes): Subtis destrezas. Subtilezas servis. E pensar que ainda há quem perca tempo lendo. Havia um surdo com a secreta esperança de um dia poder ouvir, um cego com o recôndito desejo de vir a enxergar, e depois um outro que voluntariamente aderira tanto à surdez como à cegueira. Porém, infelizmente, não era mudo, pelo que passava a vida tagarelando cacofonia. Que trágica a vida. Que trágica a vida. Mas quem apanha quem, afinal!? Ninguém!

Quinta Mónada (Em “Loop”): De volta ao Início. Continua chovendo Pétalas e eu estarei algures entre elas, com elas, em elas. Mas sobre isso deixo-o a ti, para que descobrindo te descubras. Amo-Te, sim, tu!



quarta-feira, 4 de maio de 2011

Maria Joana (A Dura de Roer, Ruída de Doer: Entender?)

Em todo o caso: pensei que não era feliz porque me achava incapaz de gerar beleza, sendo que era precisamente isso que desejava e queria fazer.

Maria Joana, de ti tudo o que se pode esperar é não menos do que o inesperado, ou não fosses tu previsivelmente imprevisível…

Desfaça-se a confusão: não é engalanando o deboche que fará dele algo que não é, a dizer, Sensualidade.

Maria Joana, nunca desfrutei de uma abundância como a da harmonia dimensional de tuas ancas com teus seios, que bem que ficam cochichando indiscretamente entre si…

A propósito: agora que te desfiz em pedaços, sem sequer me preocupar se isso te fará aprender a não andar por ai a desfazer os outros, como sempre, deixo tudo entregue ao aprazer dos Anjos e Angélicas que assistem atónitos ao nosso prazer.

Maria Joana, Deus te proteja de ti própria, inspiras-me, fazes-me escrever…

Na verdade: que variações de caligrafia mais inesperadas se podem encontrar no exercício das cadências descompassadas inerentes ao Amor de Contacto? Escrita Sensual.

Maria Joana, não tinha caneta, usei a língua, em teus halos escrevi poemas circulares sobre ti, até chegar aos Picos da Glória…

Em todo o caso: nem sequer é preciso invocar a expressão “faça chuva ou faça sol”, porque nós estamos lá, basta um simples “sempre”.

Maria Joana, não tinha agulha nem tinta, novamente a língua, e tatuei em tua pele meu revisitado Amor-Deleite por ti, e teus poros fumegaram…

Mutatis Mutandis: que sonhos seriam os da garota que passava a vida sentada em mim, esse seu trono irrequieto que só a fazia montar e cavalgar até se perder por completo de tanto se comprazer? Não interessa.

Maria Joana, no meio da sede, não tinha água para beber, com essa língua que só escreve assim em ti, precipitei-me sobre teu púlpito humedecido pela tal de lava aveludada, e também sequiosa. E veio* prova provada que não existe um único problema que não tenha no Paradoxo sua resolução …

Salvo-seja: parece que vem mesmo aí o Fim do Mundo, logo agora que nos começávamos a “divertir”; com sorte e ainda consumamos o nosso Contacto com o preciso momento da chegada da Onda de Impacto; Assim, sairíamos tal como entramos, a bordo do arrebatamento.

Maria Joana, fomos Tudo e somos Nada, e por aqui fico deixando uma questão, haverá alguém realmente capaz de o entender para além de nós!?...

Memorando: evitar o Erro Fundamental, ou seja, procurar exteriormente aquilo que só pode ser encontrado caminhando interiormente.

Maria Joana…





* (-se)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Receita (“Beija Eu”)

Porque a minha namorada de estimação sempre disse que eu era cego: um par de Óculos.

Porque a Alma praticamente ressequiu à falta de calor: Amor.

Porque ao lugar do vazio deixado pelo esquecimento: devolveu-se-lhe o Coração.

Porque não interessa o passado que já passou nem o futuro que ainda não aconteceu: Presente!

Porque eu não estou a falar da parte que ainda é Segredo: para que a Planta siga crescendo.



Post Scriptum: E não vale a pena tentar descobrir o que possa ser meu, sob pena de perderes tudo o que por direito possa ser teu. Vice-versa.

(...)

- Bom dia? Como estás? Dormiste bem? Tudo tranquilo desde o primeiro dia desta nossa Vida?
Despertando na câmara do amor, Nós, enleados numa teagem de primorosos nós sedosos.
- 'Beija Eu'...
Sorrimos já entrementes com o beijo do primeiro Amor da manhã. E seguimos celebrando o nascimento do Dia…



Post Scriptum: Beijos, Beijos, Beijos… T’Amo-Te!

domingo, 1 de maio de 2011

Em Peregrinação (Rumo à Cidade Santa)

Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo.

(Apocalipse 21:2)

Porque a Cidade não é um lugar físico, trata-se de um Lugar Espiritual
Provindo da fusão da Mulher com o Homem
Fruto do Supremo Amor

("Nova Jerusalém")

domingo, 24 de abril de 2011

Textos Encriptados: O Ilustrador.

O Ilustrador (Tomo I)

Era uma vez um rapaz, que ainda agora aqui tinha chegado, mas que já estava farto de se sentir cansado. Queria que tivessem contado estórias sobre ele, mas acabou contando estórias sobre todos os outros. Das ilustrações mal ilustradas que ilustrou, aos olhos de quem nunca soube ver, pouco ou nada restou. Então procurou, procurou, procurou. E para seu espanto achou. Mas isso… Bem, isso é segredo. Cabe então aqui o ponto “final”.

O Ilustrador (Tomo II)

Brilha, brilha, brilha, brilha, brilhaaaaa… até que brilhou. Gerou pedras preciosas dos buracos negros que no céu desenhou, furando-o com pincéis hábeis ensopados em tintas mágicas. Tão fortes, tão poderosas, que tornaram todas as anteriores andrajosas. Que encanto o espanto que gerou nos entrementes de todos os que eternamente se haviam sempre armado em descontentes. Mostrou-lhes que a coisa é mesmo em si, que tudo rola em direcção definida, que a chuva cai primeiro do Sol e só depois do firmamento. Mas foi preciso um cataclismo para que acreditassem.

O Ilustrador (Tomo III)

Escreveu uma estória sem final. Tudo o que queria era que o escutassem afinal. Mas depois de tantas voltas ao redor de nada, fez cuspir faíscas de um ventre lunar e todos as tomaram por fogos de artifício. Nada mais genial.

O Ilustrador (Tomo IV)

Ele teve a coragem de ir ao outro lado. Por lá ficou até sentir que estaria na hora de voltar. Quando o alarme soou, ele realmente voltou. Trouxe consigo as ideias que levara, agora revisitadas, mais as que gerou tanto quanto as que ressuscitou. Como poderia alguém ter entendido que ele se havia redefinido numa experiência de mescla de tempos verbais? Se no mundo em que estivera nenhum sentido houvera, iria agora dizer-lhes que essa era a máxima do sentido? Achou que o melhor seria sorrir, sorrir, sorrir, até que se cansassem de o ver sorrir, até se poder demitir. Mas ninguém o demitiu, nem ele se eximiu. Ao invés disso, pediram-lhe mais. E ele se intrigou. Mas se não entendem, porque se parecem interessar? Foi aí que veio a Revelação. O que tinha que fazer não era explicar, mas sim levar. Como quem convida para dançar. Anda vem comigo, tenho algo para te mostrar. E só assim conseguiria. E só assim conseguiu.

O Ilustrador (Tomo V)

Entrou nas cabeças de outrem e fê-los lembrarem-se de quando eram novos, e convidou-os a por aí ficar. E ficaram. Então os tais buracos negros que de início no céu desenhou levaram os impiedosos, exoneram os jocosos e coroaram os virtuosos. Tudo isto sem que alguém o houvesse profetizado para vir depois colher louros inflamáveis, só assim se quebrou o ciclo. Sorriram os loucos sanados. E os orifícios no céu se fecharam. E veio uma calmaria em que todos se sentaram, e alguns até se deitaram. Mas todos, mesmo todos, adormeceram e sonharam. Sonharam que viviam aquilo, e naquilo efectivamente habitavam. Já não era um sonho. Era real. E ele pôde então volatilizar-se e voltar ao que sempre fora e nunca quisera deixar de ser, apesar de voluntariamente se ter destacado missionário. Valera. Valera por tudo. Porque agora que o véu se sublimara, mais um mundo se elevara.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Lápis de Olho (O Verdadeiro Amor = [Força Estática <=> Força Dinâmica])

Com Lápis de Olho, desenhaste três riscos ao canto de cada um de teus olhos

Assim, ao brilho juntou-se-lhe o vislumbre de seu rasto, traço

Assinalando que se em tempos choraste lágrimas, Hoje lacrimejas cometas, por onde quer que passes

E nesse campo metafórico eu sou o Espaço onde circulas, o substrato de tuas órbitas, testemunho da tua passagem

Estás inscrita em mim, Força Dinâmica, e eu inscrevo-me em ti, Força Estática

E nesse campo concreto, chocamos compassadamente até que se provoque a derradeira faísca, aquela que dissolve a matéria

E quem olha para o Céu e se perde na sua Imensidão, Em Verdade, esta olhando para Nós

Mergulhando em ti e em mim, no nosso eternal movimento de choque, até à derradeira centelha, Cessação

“Tudo no seu devido Lugar”.



Em Casa (Palavras Beijadas)

Carícias sopradas, beijos subtis sobre um rosto de pele macia.
Um quente sussurrar d’aragens apaixonadas.
Seda viva, tão Bela que és.
Alva e branda.
Um Abraço nu, Que pulsa d’Amor.
Mãos enlaçadas, corpos fecundos, Almas adunadas.
Palavras? Só beijadas…


Entrei na Casa do Coração, e encontrei uma Luz com corpo de Mulher. Tinha Nome, mas não se pronunciava, sentia-se. Senti e Amei.



(Não me acerte)
(Não me cerque)
(Me dê absolvição)
(Faça luz onde há involução)
(Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal)
(Reabilite o meu coração)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Apocalipse não é “Fim”, é “Revelação” (Contagem Regressiva)

10 Estava tudo tão bem, porque desfigurar o que estava figurado? Mas não é a mesma coisa? É porque nem sempre é mau quando os comboios se deslocam fora dos carris, em verdade, às vezes é necessário que assim seja. Em Sonhos tudo é possível, sejam construções ou desconstruções, não há diferença, pelo menos em essência. Fogo Interior: primeira pista.

09 Pernas para que vos quero. Vou a correr. Corro tanto que deixo de Ser. Sou um Vento de Pensamentos. Para cada lado uma direcção, rajadas para todos os gostos. Nada é definido, tudo é indefinido. Disperso-me quando sopra. Portanto tenho que chegar à terra onde o vento não bule. O Olho do Furacão: segunda pista.

08 Foram anos de espera, talvez mais, sim, muito mais. Queria fazer um festim de Amor há muito tempo. Mas caía incessantemente no mesmo buraco negro. Do outro lado ia dar sempre à sala do costume. Um lugar cravejado de memórias, mais antigas que o próprio tempo. Que carregava vida após vida. E que me faziam repetir as estórias. Tomei banho, tudo se resolveu. Tornado que liga o Céu ao Mar: terceira pista.

07 Aqui de onde se vê o que dali não era visível. Mas para cá chegar é preciso caminhar, não basta rezar. Ah, pois é! Fácil é dizer que o é, difícil é perceber que mais vale andar que falar, sempre. No interior da casamata um animal acuado. Não tentes apaziguá-lo, solta-o e ponto final. Ele vai para onde a sua mente o levar e tu ficarás com mais uma sala limpa e vazia. Céu e Mar entram em colapso: quarta pista.

06 Deixa-te estar aí que estás bem. Porquê? Então mas tu achas que eu quero saber disso para alguma coisa? Nem sequer fui eu que falei (escrevi). É que não tarda nada começa a chover e esta chuva leva-te com ela. Avisei. Era uma vez o número três, veio, mas ninguém deu por Ele, porque afinal era uma Ela. E por isso mesmo, fez-se tarde demais para os cegos e cegas que de inocentes nada tinham. Dos virtuosos, nem rastos, vá-se lá saber o que será isso. Portanto ficaram apenas os loucos, débeis e falhados. Colapso do Céu e Mar: quinta pista.

05 Basta deitar-me e tudo aparece. Antes era confuso, agora passa ao lado, e há medida que isso vai acontecendo tudo é arremessado borda fora. E só de pensar que se tratam de coisas que nunca chegaram a realmente existir. Mas é assim o alinhamento deste período profundamente desalinhado. As árvores e toda a sua corte, súbditos e súbditas, rapidamente hão-de recobrar, crescer e cobrir uma nova terra. Quem tiver olhos de águia conseguirá perceber esse movimento. Há um sonho em que se cospem dentes: sexta pista.

04 Esquece tudo o que ficou para trás: sétima e única pista.

03 Um, do, li, tá, cara de amêndoá, um segredo colorido, quem está livre?...

02 …Está!

01 Estou. (?)*

00




* Porque não te interessa se “Estou”. Só te interessa se Estás. A mim o que é Meu, a ti o que é Teu. Só assim poderá Ser. Só assim.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Maré Vaza antes do Tsunami (E uma “Cidade” Nasceu)

Denunciada pela reverberação uterina arrítmica, Ele percebeu quando a Maré começou a baixar abruptamente, pedindo-Lhe que fosse com Ela também.

E partiu decidido em busca do perfume do seu fervor. E depois do impacto, Ela só conseguiu agarrar-se com ganchos à primeira nesga de lençol que se Lhe assomou a cada mão, evitando assim que a Alma Lhe saísse irremediavelmente vaso a fora.

Mas sem sucesso, incapaz de se conter, veio o Tsunami, engoliu, arrasou, devastou o que já existia, e uma nova “Cidade” nasceu.



Get up, Get up, Get up, Get up
Let's make love tonight
Wake up, Wake up, Wake up, Wake up
'Cause you do it right

Heal me, my darling
Heal me, my darling
Heal me, my darling
Heal me, my darling

(Sexual Healing, Marvin Gaye, by Ben Harper)

O Princípio das Coisas (‘Bora nessa, Vanessa!)

- Olha lááááá!... Em tom de espanto teatral. Mas que contornos são estes!?.... Provocou o gajo, traçando contínuos e subtis círculos com o dedo indicador sobre a pele da sua anca quase despida, mas já sinuosa.
- Não sei, descobre… Deu-lhe o troco ao melhor nível, qual triunfo do princípio cinético da Energia Feminina.
Acoplaram via Beijo ávido e interminável. Imediatamente mergulharam no mar agitado de sorrisos marotos, e foi assim que tudo começou. Contorcionistas. Peritos em topografia sensível. Enfim, tudo do que se possa imaginar, e mais ainda…




Gostei de ser de quem me gosta
Eu aprendi
Querendo a vida bem mais fácil
Eu resolvi
É tão melhor viver em paz
Ninguém me faz sentir assim

(Vanessa da Mata, o Tal Casal)

sábado, 9 de abril de 2011

Bonina Coração de Luz (Nome de Mulher)

Assim que soube que eras Poesia
Minha Bonina

Derramei Luz sobre Teu Coração

Toda tu te Derramaste sobre o Meu

E percebi que eras a Encantadora


Nossas Almas já eram uma Trança de dois Filamentos Entretecidos de Brilho
E apesar de o ignorarmos, sempre tivemos Conhecimento
Porque antes do Dia, cada passo de um foi um passo em direcção ao Outro
Porque antes do Dia, mesmo em cegueira, já nos procurávamos
Porque antes do Dia, incessantemente, sabíamos que faltava apenas que nossas roupas se encontrassem
Um trecho de uma estória onde o Espírito fora sempre o mesmo e por isso mesmo a distância nunca existiu

E porque hoje é o Dia,
Neste Momento em que nos descobrimos
Somos a Celebração
Génese do Festim de um Universo que nos Salva e ao Nosso (re)Encontro
Agora e daqui em diante, só Amar
Porquê?
Porque sempre será o Dia

Assim que soube que eras Poesia

Minha Bonina

Derramei Luz sobre Teu Coração

Toda tu te Derramaste sobre o Meu

E percebi que eras a Encantadora





Traga-me um copo de água, tenho sede
E essa sede pode me matar

Minha garganta pede um pouco de água

E os meus olhos pedem teu olhar

(Gilberto Gil, Tenho Sede)

Cidreira e Mel (A Gostosa Insinuação)

Que gentil folia esta, a Nossa
Deliciosa, aquosa pueril
Nós, uma Infusão de corpos
Alegria tão doce e Melíflua
Quanta Inspiração
Sim, nesta mútua impregnação de travos, sabores e odores
Que nos faz estar no que está para Ser, mas já É, sempre Foi
Qual de nós Cidreira?
Qual de nós Mel?
Expiração. Perguntas para quê?
Se sim, se somos Infusos?

Gota, a gota…
Vamos instilando as nossas essências um no outro
E nos entrementes, sem saber o que é pressa ou tempo sequer, decoramos nossos Corações com “juras” d’Amor beijadas
Eu Amo você, Menina… Juro!...
T’Amo, meu Anjo… Juro!...
E logo abandonamos as palavras para retomar os gemidos maviosos do corpo-a-corpo, porque “quem mais jura mais mente”, e nós só conhecemos a Verdade, sendo esse o ponto em que chegamos à Essência
Portanto, Sim… Somos Infusos



sexta-feira, 8 de abril de 2011

Vai um Combate? (Porque o Fogo Nasce da Fricção)

Que estas nossas incursões amorosas ora se tornam duelos, é a mais pura Verdade. Porque é da fricção que se cria o Fogo. Sendo por isso que brinco ao atrito nas galerias mais intimas de ti, só para teu jubilo e minha elevação, nossa Consumação!

Porque Nós somos Ígneos… Vem que eu vou, vai que eu venho, o bailado sem passo certo, acende nos pontos de contacto a faísca que começa a fumar sensualmente os Vapores do Amor. E é precisamente quando não esperamos que se dá a gostosa convulsão e o magma nos dois casa e se liberta como Um.

E então, que te parece!? Um combate corpo-a-corpo? Sim, sou eu a convidar-te para pelejar comigo!...



Post Scriptum: Este texto não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico, pelo que não se recomenda a sua leitura.



(Bob Marley, Jammin')

I wanna jam it wid you.
We're jammin', jammin',
And I hope you like jammin', too.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

No Calor da Câmara Nupcial (Porque… )

Porque pintas teus lábios de vermelho aguerrido
Eu beijo-te apaixonadamente para ficar com tua assinatura enlouquecida em meu rosto

Porque pintas teus olhos com ‘degradês’ exóticos
Eu expiro poesia inspirada em ti que te leva às lágrimas que tingem tuas faces

Porque não precisas pintar os teus cabelos que cheiram bem
Eu rapo o meu e deixo crescer a barba, só pelo prazer de ser abrasivo e poder picar-te

Porque tua pele é pintada de uma promessa garantida de deleite
Todo eu, dos pés à cabeça, passo a ser um barco navegando em ti Mar de Amor

Porque os teus olhos desembocam numa pintura guardada em teu ventre
Eu ensino-te os Segredos do meu Abraço, e balançamos, e balançamos, ao sabor da nossa sensual Maresia

Porque tu és Linda e eu sou Feio
Quando tomas teu banho de sais e florais, mergulho vestido só para me encharcar e poder me despir

Porque isto nunca mais acabaria
Deixo neste preciso momento de escrever para desligar esta coisa e ir ao teu encontro



Até já!
Fecha os olhos!
Porque quando os abrires já aí estarei, com um bouquet na mão e um beijo pronto a decolar de mim até ti!

Dia das Mentiras (Especialmente concebido para Ti!)

Parabéns, meu Amor! Hoje é o teu dia, o das Mentiras! Por isso venho Celebrar-te!

Desde há quanto tempo vens dizendo que “não” quando cada poro de ti transpira um “sim”? Não me Amas? Tua boca sempre disse uma coisa mas teus olhos outra. Em que ficamos?

Nictação? É o pestanejo! Se é importante!? Não, é muito mais que isso, é fundamental. É a chave de todos os segredos! Porquê? Porque tudo está decifrado no código morse particular dessa tua nictação, Princesa!...

É por isso que sempre procuro o teu Olhar, o jogo entre o brilho e o pestanejar. Quando te fito, leio-te… Perdoa-me se o faço, mas és tu que clamas por mim…

E se não aguentar? STOP Falta-me o Ar! STOP E se esta Força que ameaça transbordar o meu peito se libertar? STOP E o aperto na barriga? STOP Vou perder o controlo? STOP Vou ser esmagada? STOP Vou deixar de ser eu? STOP E se de repente eu cair dentro desse Infinito que pressinto em teus olhos? STOP É um abismo ou um salto para uma outra dimensão inexprimível? STOP Pára de olhar assim para mim, por favor! STOP Posso não aguentar! STOP Vou sair magoada? STOP Tenho medo! STOP Mas se tenho medo, não é Amor! STOP Então o que é? STOP Sim… Eu Sei… Somos Nós… STOP Porque quando estou só e fecho os olhos, suspiro e sei… STOP Eu também Te Amo… STOP Tanto que não consigo nem pôr em palavras… STOP Tanto que não consigo nem abarcar ou entender... STOP Eu Sou esse feixe de Luz que une meu Coração ao Teu, e que és tu também… STOP STOP STOP STOP e STOP!...


Um convite? Pode ser?... Vem, Lê-me, mergulha, meu Bem... Porque “Para brincar na gongorra: dois”…





Post Scriptum: Com a Verdade m'enganas, com a Mentira te revelas.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O Anjo de Asas Púrpura (Alfazema ao Piano)

Quando há Amor tudo se torna mais fácil
Aqui estou, falando a linguagem dos teus Seios
Mergulhados os nossos retratos em chá de Alfazema,
Essa solução de Terna Paixão em que nos Recriamos

Lúbrica de Felicidade, desabotoas tua Flor, e eu vou por Ela adentro
Damos as mãos, dedos entrelaçados, e tudo fica mais concatenado
Sorris nos entrementes que sucedem ao recobrar de fôlego
Nunca chega a cansar, pelo contrário, seriamos assim o Além Tempo

E porque não? Sejamos.

"Assim na Terra como no Céu".

T’Amo-Te, meu Amor em Flor.


(…) pôs-se a tocar uma sonatina de Scarlatti com algumas hesitações mas com muito sentimento. Enquanto ela tocava, pude observar-lhe melhor as feições. Não me parece possível retratar com palavras um rosto de mulher. O que importa não é o seu formato, a cor dos olhos, o desenho da boca e do nariz ou o tom da pele. É, antes, uma certa qualidade interior que ilumina a face, animando-a e tornando-a distinta de todas as outras, e essa qualidade raramente ou nunca se deixa prender até mesmo pela câmara fotográfica.

Erico Veríssimo, in Sonata

quarta-feira, 30 de março de 2011

Estrela e Anti-Estrela (Pesquisando o sorriso na Espuma)

Foi numa Festa de Espuma. Parecia tudo normal, o meu corpo estava lá, mas minha cabeça sempre gerando ‘Poesia em Tempo Real’. Hoje sou capaz de jurar que antes do toque já por mim tinhas passado umas quantas vezes, como uma borboleta rondando o seu pouso antes de aterrar. E quando aterraste, só dei pelo que estava acontecendo quando reparei que os meus lábios tinham ficado na tua boca e os teus na minha.

Os aglomerados de Espuma eram as Nuvens, o ar saturado o Céu. Eu dancei contigo, tu dançaste comigo, dançamos os dois juntos. Que compasso. Ninguém deu por nada, estando em contacto éramos invisíveis.

Já no quarto, expulsamos apressadamente (vide, convictamente) as roupas dos nossos corpos. Foi tudo tão diferente. Nada como até então. Foi só sentar-te em mim. Tu liquefazias-te, não te podia agarrar, mas também não me parecia que o quisesse. Sentia-te permeares-me, como se fosses mercúrio com um intenso odor floral. Percebi que estava em ti d’igual modo, que te perpassava (vide, penetrava) o corpo todo passando a correr com a tua circulação sanguínea. A minha colecção de movimentos, uma cadência que por vezes propositadamente se sincopava imprevisível, conduzia uma energia lúbrica que te transia. E repara que transa deriva de transir.

Eu, o Anti-Estrela, pesquisei o teu sorriso réu com os segmentos mais húmidos da manifestação do meu Ser e que tu beijaste. Descobri o meu paladar favorito e tu também. Ofegando descontraidamente, o teu sorriso abria lasso e fechava constrito, palpitante, à medida qu’ia e vinha. Como uma Rosa ora abotoando, ora desabotoando, insinuosa e jorrando (vide, recheada) impelida pelo vigor.

Tu, a Estrela, decifraste que à medida que as pulsações se foram dissipando uma na outra, começámos a abandonar os corpos. Incorporaste a tua pele na minha, qual fundição e a sensibilidade de limiares latejantes excedidos fez-nos espumar aos dois. Digo sorridente, que desse modo nos fizemos, sempre sorridentes. E depois foi ver a Espuma fazer-se de Céu.

Atrás de ti Havia uma Luz, como se fosses o horizonte atrás do qual o sol se põe. Que Luz. E quando o ocaso se deu, ficámos.

Somos Estrela e Anti-Estrela.

T’Amo-Te, Luz.