Eis o reconto do Conto de Todos os Tempos! Se esta versão é ipsis verbis o que se passou!? Não há certezas! Corre, no entanto, que sim!
- Princesa minha…
- Anjo meu!
Anjo e Princesa, vagueiam. Entre as Nuvens, com as Nuvens, nas Nuvens. Princesa e Anjo, sonham. Entre as Estrelas, com as Estrelas, nas Estrelas.
- A Brincadeira? É o Jogo Fantasioso, a Criativa Ilusão que faz de conta que há, para nos engodar a ir em busca do que realmente Há! Recapitulou, a Menina Sabina.
Mortais por olvido de nossa Imortalidade, meditamos sobre a Princesa e o Anjo, para que à causa deles nos entreguemos, e com eles busquemos até Transcender, ao Celso.
- Encarnas a Fé, abnegadamente, entregas-te ao molde que Intencionas à Vontade respirada! Aconteça o que acontecer, não podes permitir que o medo te tome, porque aí, o que temes adquire dimensão, consubstancia-se, tornando a Brincadeira tenebrosa, desconectando-te do Deserto Azul. Avisou-a.
Pois o Entregar está com o Colectar, o Dar com o Receber, tanto quanto a Inspiração esteja com a Expiração! Principíssima e Querubim, provaram-no, valsejando aurífices de valentia.
- Adorada Princesa, eis que te pergunto: és Pranteada ou Prateada?
- Anjo, adorado, eis que te respondo: sou o Dourado do Lacrimado!
A Brincadeira dá a parecer inúmeras Cores Azuláceas e incontáveis Nuvens, encobrindo que no fundo só há Firmamento. Se aquelas são mutáveis, Este é o Imutável.
Enroladinha como um caracol deprimido, ouviu a prelecção do Prof. Anjo, enfiada na casquinha!
- Maria Caracol, Maria Caracol! Vem meter os cornichos ao sol! Gargalhou, pícaro!
Escutando o inspirado orador, os olhos galvanizaram-se, galvanizando todo o Azul-Celeste em redor. Sacou novo e longo suspiro, para juntar à colecção, desta feita, esperançoso!
- Estares aqui, como observadora, é quase equiparável à fusão ao Deserto Azul!
- Estar no Mar, sujeita à Ondulação, é estar na Brincadeira!
- Na Maré Ondulada estou na Brincadeira!
- Isso!
- É o alvedrio da Entrudança, do seu Ludo!
- Em suma… O Mar espelha o Deserto Azul. A Ondulação é o modo como é sonhado pela Brincadeira.
O Anjo aparece e desaparece em Plins! Um Plim daqui para ali, outro plim de lá para cá! Como uma Nuvem de pozinhos luzidios que se faz e desfaz, do nada em tudo e de tudo em nada!
- Planteando se planteia.
- Plantear!? Com efeito, faltava à Menina algum vocabulário! nada que boas horas de leitura deixassem por mãos alheias.
- Partida! Lagarta! Fugida! Aí vai! PLAN-TE-AR! Verbo transitivo! 1. Em Arquitectura é desenhar a planta. Em Português Antigo é prantear! Portanto dá para jogar!! Plantear é plantar!
- Dispenso essa veia poética! Armou uma cara meio à banda! Uma birra princês, sem ponta por onde se lhe pegar
- Rabuja! O Anjito troçou, qual diabrete, casquinando!
- Intruja! Ela ofendeu-se!
- Rabuja vezes mil!
- Ganhaste, não tenho vida para isto!
- Angelus Victor!!! Angelus Victor!!! Angelus Victor!!! Fez a festa e deitou os foguetes!
Resumindo, o Coração é como uma corola, rodeada de pétalas! Faz-se mister que tais pétalas estejam viçosas, pois são elas que canalizam o Alento, ao corpo-espírito.
- Escuta… Aprecia… Pondera… e propõe-te à descoberta, se quiseres! Dito isto, o Ofanim esgaçou o seu sorriso, transluzente!
Jogavam ao guelas! Á cova e à roda! E aqui entre nós, a Caprichenta chegou a revelar um certo mau perder, que só piorava com a supina gozação do Mafarrico, cronicamente vencedor e… trocista!
- ‘Merci beaucoup!’ Afrancesou a Menina, à maneira do seu Menino.
- Si te plait, ma petite! Reciprocou o Bonitão, à beira de sua Boniteza.
O culminar da Busca, corrobora este Narrador, é quando Lá ficamos. Todavia, ao longo da vida vamos tendo gostinhos do que é Lá estar, por curtos mas inolvidáveis momentos. Melhor explicou o Doutor, naturalmente, ao atestar à Paciente que fora isso que lhe aconteceu, quando rezou e repetindo palavra a palavra, essas perderam o sentido, passando a ser um contínuo, desprovido de significado.
- És o Celestial, nada mais, nada menos, que a morada de um anjo. Sendo Celestino, estarei sempre contigo, em ti...
Era uma mágoa que tinha mas não lhe pertencia. Fique claro, ensinou o Anjo, não há mágoas de alguém ou de ninguém. As mágoas são ilusões que podem ser vividas ou nos podem viver. Passa por escolher.
- Anjo, Arcanjo e Principado! Depois, Potestade, Virtude e Dominação! Finalmente, Trono, Querubim e Serafim! É esta a Hierarquia, não é, Anjo?
- As hierarquias só existem aos olhos de quem se Ilude.
- Chato!
O Arcanjo, voando em velocidade-luz, como um sopro que se auto-renova pela intérmina propagação do Deserto Azul. Da Nuvem-Catre, Sua Sumidade arregalou-se, emitindo uma energia de encanto.
- São deliciosas! Mastigou, guleira!
- Há doces, amargas e agridoces! Mas todas são suculentas e apetitosas!
- Porque são de Água, fluem nos seus variados sabores! Tal e qual o viver da vida!
- Ora, bem!
O Anjo fazendo-se reflectir nos olhos da Princesa, levou a que ela se visse nos dele. Reciprocidade instantânea!
- O que vês fora de ti é o que existe dentro de ti: o Deserto Azul!
De vista caída no Chão-da-nuvem, calcetava-o de desânimo e tristeza. Ora, aqui o “fazer chorar as pedras da calçada” ganhava outra propriedade! Estando dispersa, consequentemente, a Adormecida perdia centro e entorno. Mareava, enjoada! Que embotamento! Observador nato, o Aeronauta, coçava o cocuruto angelical, assoberbado pela teimosa e duplicada interrogação: o que fazer, o que fazer?! A Deprimida e o Chico-esperto!
- Princesa, és uma Sonígena!
- O que é uma Sonígena, Anjo? Perguntou, esbelta de curiosidade.
- SO-NÍ-GE-NA! Adjectivo de dois géneros! Que provém ou brota dos Sonhos!... Somos os sonhos do Sonho da Mãe Brincadeira!
A Congeminosa ficou calada durante instantes, como se estivesse pensando em algo que quereria dizer ao Pardal.
- Então, tu és Nubígeno! Apontou confiante, mostrando-se sabedora de palavras caras!
- Sou!? Porquê? Indagou, serenamente espantado.
- Porque vens sempre das nuvens!
Riram-se. Uma risada que ecoou no silêncio daquela noite partilhada em harmonia.
- Quanto mais encontrada estiveres com o Deserto Azul, dentro de ti, mais intensamente brilhará teu Olhar, logo, mais forte serás com o Universo! Profetizo, em breve hão-de chover ‘Malmequeres’!
No Páramo Cerúleo, do raso ao elevado: Stratus, Cumulus, Stratocumulus, Nimbostratus, Cumulosnimbus, Altocumulus, Altostratus, Cirrostratus, Cirros e Cirrocumulus! Seja como for, ao final, no dizer do Mestre Anjo, são todas Passarolas-caranguejolas!
- Anjo, quando vou à praia, às vezes, passado algum tempo e já fora de água, sinto a Ondulação em mim, como se ainda estivesse submersa!
- Princesa! É a conexão à Vibração, ao Mar em ti!
- Somos o Mar, tal como somos o Deserto Azul! Atingiu!
- Sim!
- Quer seja Brincando ou Testemunhndo! Coruscou o corolário!
Arquejou uma brisa cansada, vinda do seu Profundo. Enfim, autoconfinada à Nuvem-Tugúrio, depressiva, varava os dias num choramingo constante. Coisas de quem se lhe partiu o Coraçãozinho.
- As Nuvens são Sonhos, Donas flutuantes no Deserto Azul, que erram por e sobre nós, à espera que lhes reconheçamos miríades de formas!
- Disseste-o de forma poética, Anjinho!
Quem sabe, e nunca o Deserto Azul vislumbrara uma pulcritude como a daqueles melodiosos momentos. Sobrepairando, um levando o outro, Anjo e Princesa versaram-se um poema bailarino. Mesclando suavidades, até se transformarem em Sonho Lúcido.
- Mar... Amar... o Último passo antes do Silêncio! Vaticinou.
Voo pertíssimo, rasando os cabelos da Undiflava. Ademais, fez faísca! De maneira que os obrigou a ulular alegres, como se, momentaneamente, tivessem dependurados numa cabeça em pino.
- É preciso Vento, Alento para se esculpir, dar forma… Respirando!
- Tudo é um acto de Criação Artística!
- Exacto! É por isso que Vates e Artistas são cruciais na Brincadeira! Há quem diga que a própria Brincadeira é a Mãe Poetisa, inspirada, e o Deserto Azul o Pai Trovador, abundoso!
Interminavelmente, brotavam de colorações-cintilações miraculosas, como se chovessem infinitas bênçãos pelo Deserto Azul, matizando-o, enchendo-o de um viço fulgurante. Uma monção, calorosa, de imaginâncias da Alma da Princesa.
- Sim... O verdadeiro Amor, a verdadeira Amizade, o mais puro Sentimento, fazem-se sentir sob Silêncio... E Esse é, de algum modo, Musical, não o ouves?
No final, sorriu, contagiando-o, como se tivessem, secretamente e em silêncio, como que por telepatia, acabado de partilhar um valiosíssimo segredar, uma Aspiração cujo valor jamais pudesse ser descrito ou comedido.
- Como exercício, poderás ler em frente ou Ler de marcha à ré. Lendo para diante, brincas com a Brincadeira! Lendo para trás, desconstróis o texto, a frase, a palavra, a sílabas, a letras, e quando não não sobrar nada… encontraráss Tudo, o Horizonte Excelso! Instruiu o Licenciado.
O Artesão riu-se, e a Artesã não conseguiu fazer senão o mesmo.
- Não queres Cocriar para ocupar espaço, longe disso, queres…
- …desocupar espaço! Entremeteu!
- Perfeito! Elogiou!
Durante um ínterim que passou no embalo de uma Maresia Divinal, os dois contemplaram o Mar, ouvindo o som do transformar das Ondas em Espuma. A areia banhada, o ar salgado. Assim se ficaram, circunspetos no Bailado Marítimo, apaixonados pela visão que os envolvia, pelo sentimento que os tomava.
- És tu, Princesa! Sim! Acentuou! Tu és o Deserto Azul, vamos voar pela tua própria Imensidade a fora! Vamos mergulhar por ti adentro!
Como um Coro de Mil Vozes Sagradas, Ultraterrestres. Cerimonioso, sabemos que não era mundana música, antes, o tangido de Brisas Paradisíacas, extraídas ao Silente Estado.
- Princesa! As Estrelas são Pirilampos-Luminares, movendo-se ao ritmo da Transcursão Sideral. Os Pirilampos são Bichinhos Estelares. Da nossa envergadura, às primeiras nem abrangemos o andarilhar, aos segundos adjectivamos “efémeros”! A microscopia está com a marcoscopia! Mudando a escala, o valor é inalterável! Tudo é gracioso e insubstituível! Estrelas ou Pirilampos, Luminares ou Estelares!
- Que lindo, Anjo!
Desejo que guardou para si, em segredo, ou não fossem os desejos preciosos arcanos.
Pervagou uma brisa morna, suspirando unissonante com o Par. Um momento de íntima sintonia.
Sem comentários:
Enviar um comentário