terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Repórter (Primeiros indícios)

Naqueles trechos da vida, sempre quis registar sem participar. Como se fosse invisível, estar lá sem intervir. Sempre quis assim para se proteger do embaraço da sua timidez. Portanto, o rapaz sempre fora um Repórter. O Tímido Repórter… Daí a ênfase angelical. Anjos são repórteres… Invisíveis, observam e reportam. Uns não intercedem, outros sim… Mas isso é o capítulo seguinte da mesma estória…


(‘Retrato da Alma’)
(Foto de Mar que tomei a liberdade de intitular)

Consultando o Oráculo (Veneno)

Sentou-se e procurou o Mestre. Havia somente que aguardar, pois o chamamento já havia sido emitido. Naquele momento era de certo modo difícil ser paciente, um pouco mais do que o habitual. Era como se ainda se sentisse de alguma maneira sob a alçada daquela estranha sensação que o revirara até ás entranhas. Foi doloroso…
- Sentes-te melhor?
Sem avisar, como sempre, a voz sábia do Mestre reverberou por seu corpo adentro. Por mais vezes que o invocasse, nunca sabia quando ele ia chegar, era sempre tomado de súbito, desprevenido.
- Sim. Arrisco-me a dizer que o pior já passou.
- Arriscas bem. Assentiu suave e firme.
- O que se passou comigo, Mestre? Seus ombros ligeiramente retraídos e seus olhos impressionados retrataram com fidelidade o ímpeto que se impunha naquela pergunta.
Fez-se um compasso de espera, um momento de silêncio, como se o gérmen das palavras a sair precisasse de um naco especial de tempo para despontar.
- Quando decides salvar alguém mordido por uma cobra tens que te acautelar.
- Como assim?
- Primeiro certificas-te que a cobra já não está por perto. Caso contrário, expulsa-a para bem longe. Depois, se não te restar outra hipótese que não seja sorver o veneno a partir da ferida aberta pela mordida, tens que ter cuidado para não seres também tu contaminado.
Foi como que atingido por um raio clarividente. O vestígio de veneno que ainda o minava dissipara-se instantaneamente com esse clarão. Agora sim, tudo fazia sentido. O medo, a raiva, a angustia, os pesadelos, o desnorte. Desvendava-se toda a indescritibilidade da ruína que sentira. Havia sido contaminado pelo veneno que estivera a remover.
- Se não cuspires bem o veneno ele entranha-se subrepticiamente e afecta-te. Até que o consigas dissolver, sem a consciência disso, só te resta penar vergado ao seu efeito maléfico.
Olhou o Mestre com seriedade e uma gratidão cristalina.
- É importante que te dediques a salvar vidas, mas é ainda mais importante que te mantenhas vivo. Atende primeiro ao primado do teu propósito e depois àqueles com quem te cruzas, por mais vividas que sejam as tuas certezas acerca do seu papel no teu Caminho. Sobre isso, não te esqueças nunca, a certeza só é garantida depois de concretizada e isso é algo que vai para além de ti, está nas mãos da Criação.
A advertência fora grave. Nem por sombras tão atónito quanto isso, estava elucidado.
- Obrigado, Mestre.
Lentamente, curvou-se reverente ao Venerável Oráculo. Levantou-se para tomar seu caminho de volta.
- Escuta.
Deteve-se à chamada, expectante concentrou-se no espaço já ocupado pela mensagem que vinha.
- Lembra-te que só vale a pena correr tais riscos por quem realmente se quer salvar. Sondas a vontade e a honestidade da pessoa, depois disso basta-te um ‘sim’ ou um ‘não’ para perceberes claramente o que fazer.
Anuiu em sinal de respeito e reconhecimento. Havia percebido sem mácula o intuito do recado final. Ciente, retomou sua vereda.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Menino Azul (O Começo de uma Estória a Contar)

Um dia acordou de manhã, tinha-se transformado, era um Menino Azul. Adormecera supostamente adulto, acordara seguramente Criança.
Tudo fruto de uma Oração.
Percebera num Sonho nítido que a vida é feita de círculos, uns são para se selar outros são para se quebrar.
Selem-se os ‘bons’ e sejam perpetuados. Quebrem-se os ‘maus’ e sejam dissolvidos.
Mas o menino Azul também descobriu que a maioria das pessoas, não consegue ver isso, fala muito e passa o resto de suas vidas repetindo aquilo que mais criticaram, aquilo que mais as fez sofrer. Presas nos ciclos que deviam quebrar, ignorando os ciclos que deviam selar.
As pessoas precisam prestar atenção a suas próprias palavras quando as atiram aos outros, para saberem o que necessitam de em si próprias mudar.
No seu Sonho as pessoas feriam quem bem lhes queria, e deixavam-se ferir por quem delas abusava. Umas sabiam disso, outras desconheciam. Umas eram cruéis porque sim, outras eram-no porque não. No entanto todas eram tristes e angustiadas, todas precisavam e mereciam ser ajudadas. Mas só algumas queriam aceitar essa Mão que diante delas se estendia vibrante.
Só se salva quem quer a salvação. Só vive o Milagre quem Nele acredita e o quer viver.
Nesse Sonho, uma Menina Dourada trepou até ao topo de uma árvore imemorial e cantou ao Coração das pessoas palavras de um idioma sagrado no andamento de uma melodia divina. As que quiseram ouviram e deixaram-se encantar. As que não quiseram, afeiçoadas a sua surdez de estimação, em pó de lágrimas se fizeram chorar partindo para renascer num outro lugar.
Nada se perde, tudo se transforma. É o direito de cada um abrir seu Coração e cintilar ou fechar-se, inevitavelmente murchar, e voltar um dia mais tarde para continuar a aprender a partir do ponto em que por medo, desistência ou decisão achou por bem parar…
Então ecoaram sorrisos e, como se secretamente há muito estivesse combinado, do ar Meninos e Meninas Azuis começaram a brotar. Eram como Pirilampos Pulsantes gravitando ao redor dessa Criança Dourada, enaltecendo a Radiância que não parava de alegrar e aclarar. E para quem sempre acreditara que entre duas Almas o vazio as separava, pôde ver seu engano desiludido e perceber que sempre as uniu essa mágica Energia perene. E todos os Meninos e Meninas Azuis se foram transformando em Ouro Etéreo por força de se terem deixado tocar pela Aura da Menina Dourada.
Temos somente que remover o negrume acumulado ao longo de vidas ocultando nosso Brilho Matricial. Todos somos Dourados, essa é a nossa Verdade mais íntima, a nossa Natureza mais profunda.
Celebrando essa dádiva Aurora, o Menino Azul levantou-se feliz, sentindo-se abençoado e especial por ter sido presenteado pelos Entes de Luz com uma Revelação. Agora sabia que tinha que arranjar maneira de a contar. Sorria ao ponto de se sentir capaz de realizar Milagres. Sabendo que seu peito albergava um Jardim Dourado, olhava ao redor com seus olhos branqueados por Água de Rosas e percebia que tudo era Beleza, só Isso.
Eu Sou o Amor.

(http://www.youtube.com/watch?v=doc1eqstMQQ)

(Sorrio)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Palavras emprestadas (Fusion)

Estas são as questões que coloco, as afirmações que afirmo. Quando duas Almas se sentem como Uma.



Fusion

¿Dónde termina tu cuerpo y empieza el mío?
A veces me cuesta decir.
Siento tu calor, siento tu frío,
me siento vacío si no estoy dentro de tí.

¿Cuánto de esto es amor? ¿Cuánto es deseo?
¿Se pueden, o no, separar?
Si desde el corazón a los dedos
no hay nada en mi cuerpo que no hagas vibrar.

¿Qué tendrá de real
esta locura?
¿Quien nos asegura
que esto es normal?
Y no me importa contarte
que ya perdí la mesura
que ya colgué mi armadura en tu portal.

Donde termina tu cuerpo y empieza el cielo
no cabe ni un rayo de luz.
¿Que fue que nos unió en un mismo vuelo?
¿Los mismos anhelos?
¿Tal vez la misma cruz?

¿Quien tiene razón?
¿quien está errado?
¿Quien no habrá dudado
de su corazón?
Yo sólo quiero que sepas:
no estoy aquí de visita,
y es para ti que está escrita esta canción

terça-feira, 22 de setembro de 2009

De Viagem (Voluntário, hoje é dia de partir para ser Feliz)

Suspirou pesadamente. Não de tristeza, mas sim perante a inevitabilidade de uma decisão tomada. Não havia mais nada a fazer. Aceitar pode ser um dos maiores actos de coragem, o pêndulo entre o medo da cobardia ou a certeza da ousadia. É preciso ser arrojado, do dizer ao fazer está o passo que muda o mundo. Sempre disse que ia mudar o mundo, nunca o fiz. Agora que me calei, que fique em segredo, mas estou gradualmente a consegui-lo. Mas como disse aquela sua outra amiga ‘O que é certo é fácil’. Então para quê preocupar-se? O Sol brilha sempre mas é preciso saber procurar o melhor lugar para se ser repleto do seu amável manto. Olhou ao redor e viu um quarto devoluto onde morara durante anos. No seu estômago a inquietação da partida a reverberar no vazio daquela oca catacumba. Não há problema, é sinal que estou vivo… Os anos em que o seu corpo ali estivera deitado e a Alma sempre à porta chamando-o para conhecer o mundo. Finalmente despertara. Às vezes é ao contrário, a Alma dorme e o corpo anda por aí ‘ao Deus dará’… O ideal seria partir sem nada, mas ainda melhor que isso tinha uma mochila desocupada que já colocara confortavelmente às costas despertadas de uma velhice falaciosa. Agora que a juventude eclodiu por força do atrevimento de ter rompido uma casca de timidez, as rugas que só existiam na minha imaginação dissiparam-se ao som de um melódico epitáfio. Leve, sem ter a intenção de guardar o que quer que seja, pegou somente no caderno de folhas por estrear. Palavras, Desenhos e Recortes, irão testemunhar o que estiver para vir. Só para depois jogar tudo ao mar. Deixou abandonadas as chaves em cima das mantas onde a gata já não dormia e abalou até ao corredor de saída. Tinham sido meses de hesitação, anos de expectativa. Teria sido a Esperança uma ilusão, ou no fundo a Fé simplesmente estivera sempre a ganhar forma depois de há muito germinada?... Esperou somente pelo despontar improvável de flores num vaso abandonado e mal regado durante não sei quanto tempo na marquise do quarto de um parente que durante anos escreveu versos sobre álcool. Quanto a si, há já muito havia optado gravá-los sobre papel com uma caneta especial, tinta de luz. Quem lê escolhe a cor, quem sabe decifra-a. Tem tudo a ver com Amor e Devoção. Sem saber bem porquê sorriu. Apesar de tudo, sentiu-se bem, de Coração vasto. Abriu a porta, saiu, e deixou-a fechar-se sem estrondo.


Mandalas Estelares (Um Desejo para ti)

Ele estava num dos seus passeios noctívagos pela Bela Vila. Pensou nela. Contemplou o céu e viu uma estrela cadente sorrir-lhe. Superando a hesitação de quem quer gerir um sentimento, fechou os olhos e emitiu-lhe uma mensagem.

Ela estava em casa, enfadada, tentando inutilmente concentrar-se num dos três livros que fingia ler em simultâneo. Olhou pela janela e de fugaz viu uma estrela riscar o céu. Sorriu espontaneamente, mas sentiu um aperto no coração. Pensou nele com uma clareza que o fazia estar ali naquele momento.

Sem ter medo de ir além do medo, pegou no telemóvel. Acabo de ver uma estrela cadente. Se é verdade que ganhei um desejo então quero oferecê-lo a Ti. Pede o que quiseres. Sê feliz.

O som atropelou de súbito o silêncio do quarto entediado. Chegara uma mensagem. É ele… Sorriu, seus olhos brilharam instantaneamente, no meio do nervosismo. Leu-a devotamente. Sentia-se adolescente. Formulou o seu desejo. Sem medo de ir além do medo

Sentou-se nas escadas de frente para o palácio e ficou a viver a noite, como um gato pardo. Invisível.

Jogou-se na cama, de olhos postos nas estrelas que colocara no céu do seu quarto. Adormeceu com o triunfo de se ter atrevido a sonhar.


sábado, 19 de setembro de 2009

Sem intuitos (Banda sonora pela matinal)



(E o que resta de uma manhã de Sábado...)
(Está na hora da faxina!)
(Sorrio)

Poema pela manhã (Com o Sol a entrar)

Sem grandes razões para sorrir (Pretensiosa Columbina)
Hoje sou feliz (Travesso Arlequim)
Hoje estou na Primavera quase à entrada do Outono (Nesta estória não tem Pierrot, s’escafedeu)
Ganhei um sorriso com Asas de Borboleta (Sorriu)
Livre deixei-o voar (Voou)
Sabendo que num rosto gemelar s’irá acoplar (Acoplou)

Sempre fui hábil com rimas fáceis (Por simplicidade ou falta de talento?)
Sempre fui fácil perante beijos hábeis (Por excesso de Fé ou desalento?)
E se beijos nem sempre são beijos (Venha quem o saiba desencriptar)
Que bonito é estar aqui deste lado vendo as Flores crescentes (Especialmente para um paciente declaradamente impaciente)
Sabendo que houve a Inspiração para as plantar (Plantei, é verdade)
Esperar é saber viver (Se o consigo ou não, só eu o poderei dizer)

Bom dia! (Alegria!)
E pronto (Está feito)



Post Scriptum: De regresso à Poesia Lúdica (Eh eh eh)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Superação

David Chetlahe Paladin (o seu nome verdadeiro) partilhou comigo a sua estória em 1985; morreu em 1986. É um testemunho do potencial humano de alcançar uma qualidade de poder interior que desafia as limitações da matéria física. Quando o conheci, ele irradiava uma qualidade de empoderamento que era rara, e eu tinha de saber como ele tinha conseguido aquilo que tantas pessoas procuravam conseguir. David foi um dos meus melhores mestres, uma pessoa que dominava a verdade sagrada Respeitar os Outros e que transmitiu plenamente aos outros a energia da sefirá de Yesod e do sacramento da Comunhão.
David era um índio Navajo que cresceu numa reserva durante as décadas de 1920 e 1930. Ao chegar aos onze anos, era um alcoólico. Deixou a reserva a meio da adolescência, vadiou durante uns meses, depois arranjou emprego num navio mercante. Só tinha quinze anos mas fez-se passar por dezasseis.
A bordo do navio fez amizade com um jovem alemão e com outro jovem norte-americano. Juntos viajaram por portos por todo o Oceano pacífico. Como passatempo, David começou a desenhar. Um dos temas que desenhava era as casamatas que os japoneses estavam a construir nas diversas ilhas dos Mares do Sul. Foi no ano de 1941.
Os desenhos das casamatas de David acabaram por ir parar às mãos dos militares americanos. Quando foi recrutado para o serviço militar, presumiu que continuaria o seu trabalho como artista. Em vez disso, passou a fazer parte de uma operação secreta contra os nazis. O exército tinha recrutado Navajos e outros nativos americanos para uma rede de espionagem. Os operacionais eram enviados para trás das linhas inimigas e transmitiam informações à base principal de operações militares na Europa. Por poderem ser interceptadas todas as transmissões via rádio, eram utilizadas as línguas nativo-americanas para garantir que nenhuma mensagem captada pudesse ser interpretada.
Quando David estava atrás das linhas do inimigo, foi capturado por um grupo de soldados nazis. Os nazis torturaram-no, entre outras coisas, pregando-lhe os pés ao chão e obrigando-o a estar de pé nessas condições durante vários dias. Depois de sobreviver a esse horror, David foi enviado para um campo de exterminação por ser “de uma raça inferior”. Quando o estavam a empurrar para dentro de uma carruagem sentiu uma carabina a empurrar-lhe as costelas, ordenando-lhe que andasse mais depressa. Virou-se para defrontar o soldado nazi. Era o alemão com quem David tinha feito amizade a bordo do navio mercante. O amigo alemão de David tinha feito preparativos para David fosse transferido para um campo de prisioneiros de guerra, onde passou os restantes anos da guerra. Quando os campos foram libertados, soldados americanos encontraram David inconsciente e moribundo. Transportado para os Estados Unidos, David passou dois anos e meio em coma num hospital militar em Battle Creek, no Michigan. Quando finalmente saiu do coma, tinha o corpo tão enfraquecido pelas experiências do campo de prisioneiros que não conseguia andar. Tiraram-lhe as medidas para um aparelho ortopédico e, com a ajuda de muletas, conseguia arrastar-se em distâncias curtas.
David tinha tomado a decisão de regressar à reserva, dizer um último adeus à sua gente e entrar para um hospital de veteranos e ficar lá o resto da vida. Quando chegou à reserva, a família e os amigos ficaram horrorizados com aquilo em que se tinha tornado. Reuniram-se em conselho para descobrirem como podiam ajudá-lo. Depois da reunião de concelho, os anciões aproximaram-se de David, arrancaram-lhe o aparelho das pernas, ataram-lhe uma corda à cintura e atiraram-no para as águas profundas. “David, chama teu espírito de volta”, ordenaram. “O teu espírito já não está no teu corpo. Se não conseguires chamar o teu espírito de volta, soltar-te-emos. Ninguém pode viver sem o seu espírito. O teu espírito é o teu poder.”
“Chamar o espírito de volta”, contou-me David, foi a tarefa mais difícil que jamais teve de empreender: “Foi mais difícil do que suportar que me pregassem os pés ao chão. Vi as caras daqueles soldados nazis. Vivi aqueles meses todos no campo de prisioneiros. Sabia que tinha de soltar a minha raiva e o meu ódio. Quase não conseguia impedir-me de me afogar, mas rezei para expulsar a raiva do meu corpo. Foi por isso que rezei e as minhas preces foram atendidas.”
David recuperou totalmente o uso das pernas e de seguida tornou-se um xamã, um sacerdote cristão e curador. Voltou também a desenhar e ganhou reputação de artista altamente dotado.
David Chetlahe Paladin irradiava uma qualidade de poder que parecia a Graça em si. Tendo sobrevivido a um confronto com o lado mais sombrio do poder, transcendeu essas trevas e passou o resto da vida a curar e a inspirar pessoas a “chamarem o seu poder de volta” de experiências que esgotaram a força vital dos seus corpos.

In, A Anatomia da Alma, Caroline Myss

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Postal Número 5 (De Mim para mim)

Ao chegar à porta de entrada, cumpriu com o ritual de sempre. Abriu a caixa do correio. No meio do acumulo de publicidade, havia algo novo. Pelo menos a julgar pela textura. Depois de ver com as mãos a novidade, procurou enxergá-la com os olhos. Era um postal. E não vinha identificado. Mas a magia de um postal é que basta senti-lo, uma mensagem no dorso de uma imagem, e logo se percebe de onde ou quem veio.

Postal número 5

Estou bem.
Moro no teu Coração,
Estou sempre contigo,
Porque sou a tua Alma.
Não te esqueças de mim
E jamais te esquecerás de ti
Ama-me tal como te Amo
E Amar-Te-Ás como nunca Amaste
Somos Um.

Sorriu. Um postal é um portal. Aquele mais que qualquer outro. Se não soubesse quem o escrevera, diria que se tratava de um amigo imaginário. Mas percebeu claramente que era de si para si.
Levantou-se, pegou na caneta de acetato e, no canto superior direito da imagem celeste, escreveu palavras encolhidas mas de significado imenso.

Pela noite saí do meu corpo, temporário…
Escrevi um fio de versos que dediquei a mim, Alma…
De manhã voltei e já dentro do corpo acordei…
Com o sonho vívido na mente…
Com um postal na mão…
Uma mensagem de mim para mim que trouxe de um sonho perfeito…
Obrigado.

Voltou à cama ainda quente para voltar a dormir. O postal, esse, em cima da mesa-de-cabeceira estava já enviado, remetido para o “outro lado”. Adormeceu.