sábado, 24 de dezembro de 2011

A Garota de Bronze (Seios Deleite)

É só na minha imaginação?

Não, era uma loucura. Perdia-me nas tuas pernas e depois não sabia o caminho de volta, pelo que só me restava ficar e perdurar. Capturado? Nem por isso. De livre vontade, acertado com o tremor desnorteado de tuas ancas delirantes já que, curiosamente, depois de te fazer ultrapassar o limiar do tolerável começavam a falar num dialecto incompreensível. Misticismos.

Fruto da tua Imaginação?

Não, era uma intensificação. Chuvas torrenciais depois de encontrar a ligação directa entre os circuitos que iam dos teus halos magmáticos ao teu ventre vulcânico. Esse cujo pouco espaço restante estava ocupado pela minha batente veemência, profetizando a maior erupção de todos os tempos. Uma Obra inigualável, essa anatomia oculta de um precioso sistema sensitivo. Tocava aqui, acendias-te dali. Tocava ali, escorrias-te de ti. E que pesquisador te saí eu. Pior a emenda que o soneto, na tentativa desesperada de recuperar as rédeas, tu, aceleravas até ao Estado em que tua pele se tornava Bronze.

Inconsequente?

Sim, sempre fui, de outro modo e nunca teria entrado em ti. Quanto maior o precipício mais veloz se impele o mergulho aquando da queda livre. “E que não tenha nunca fim, pois assim me encontre na desintegração de mim”, era a minha Oração preambular. Até se consumar, trágicos lábios os teus que não conseguiam que os dentes atrevidos deixassem de participar também nos festins intervalares à cópula pura e dura. As coisas que fazíamos…

Incontinente?

Sim, era no que te tornavas, vencida. Compulsiva de Corpo e Alma, que Coração tão grande o teu que palpitava furioso até ao pórtico da tua Sagrada Entrada, trémulas as abas desfraldadas de seu juízo, fora de si. E abriam-se as Águas desvelando-se um Secreto Silêncio com milénios de reclusão. Se és incontida? Não, és Bem-Aventurada. Se sou especial? Não, encaixados somos ideais. Melhor que isso, reais.

“Porquê?”

Bramias tu entre a arritmia que te possuía. Porque sempre disseste que “não” ao que mais querias. E são pessoas assim como tu que se perdem, irreversivelmente, numa cama labirintificada de lençóis manchados pelas provas irrefutáveis do Amor que se Amou. Portais abrem-se dentro e fora de Nós, mais não se diz, não que seja interdito, mas porque não se sabe dizer. Só fazer.

(…)



There's a pain
A famine in your heart
An aching to be free
Can't you see
All love's luxuries
Are here for you and me

(Depeche Mode, Halo)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Drama de Maria Melancolia (Ser Mulher)

Quando você fala ou age de um modo que está em desarmonia consigo mesmo, cria uma resistência, e essa resistência é a influência das práticas hipnóticas. Ela contrai a natureza do homem e impede-o de expressar o que ele realmente é.

Baird T. Spalding, in Vida e Ensinamentos dos Mestres do Extremo Oriente.

(…)

Trocado em miúdos, quando ages num sentido que se opõe ao Apelo do teu Ser, emites uma vibração contraditória que Te desarmoniza Interiormente. Em última análise, repercute-se em distúrbio físico. Não digas ou faças uma coisa quando sentes outra, isso é como um acto de auto-agressão. Muito mais do que uma virtude, a honestidade é acima de tudo um modo de estar na Vida, um acto de auto-preservação, sensatez e Amor-próprio.

(…)

O ambiente não estava propriamente leve. Apesar do rapaz emanar uma certa paz, a inquietação dela era tão grande que parecia minar aquele espaço aberto com uma aflitiva nuvem de dúvida e resistência. Era um reflexo da sua Força descontrolada e mal canalizada.
- Repara numa coisa. Se passas a vida reprimindo sentimentos, é exactamente o mesmo que conter água numa barragem. Depois, das duas uma: ou a cada vez que abres as comportas dá enxurrada, ou simplesmente entra em colapso por excesso de carga acumulada!
Ela permaneceu no seu mutismo perturbador, com os olhos embaçados pelas lágrimas que seriam prelúdios de salvação se não as asfixiasse inclementemente.
- A Felicidade só virá quando fores capaz de assumir, viver e partilhar os teus sentimentos. Enquanto isso não acontecer, inevitavelmente, irás desembocar em situações lesivas rodeada de pessoas que de algum modo usam e abusam de ti.

(…)

Deteve-se esperando algum vestígio de contacto visual, mas ela não afastou o olhar da planta à sua frente.
- São Seres Vivos, pulsam como nós, maravilhoso, não é!?…
- Sim… A palavra esboçou-se de um desânimo.
Visto que não iriam sair daquele agueiro, fez o que lhe restava, tomar acção.
- Se negas ou pões em causa sequer a tua feminilidade estás em conflito com o Milagre da Vida. Repara que a Energia Universal manifesta-se através de duas forças polares, uma feminina, outra masculina, daí a Mãe, daí o Pai... É precisamente a descoordenação entre essas forças que causam o desequilíbrio que por sua vez te leva a esses desencontros com os gajos… Na verdade o desencontro é contigo própria… É tentador pensar que a culpa é deles ou do “azar” que tens… Mas é em ti, na harmonização dessas polaridades que tens que trabalhar… Quando souberes ser Mulher, chegará a ti um homem que saiba também ele ser Homem.
Medrou o derradeiro Silêncio antes da consumação.
- Já alguma vez aceitaste o desafio de tentares Sentir o quão Bela És!?...
Não foi ele, mas sim o que se manifestou através de si, o sentimento sem nome que reverberou com aquelas palavras. E como numa ode ao alívio, ela pariu as lágrimas. Correram pelo seu rosto deixando a forma de um sorriso cintilante atrás de si… Acabava de ser Mãe, de dar à Luz…

(…)

- Que flor é esta?
- Uma Orquídea…

- É linda, parece a Yoni…

- Sim…


(Orquídea, a Yoni Flor in http://www.berare.com/article-100)

(...)



(...)

Depeche Mode - When the body speaks

To the soul's desires
The body listens

What the flesh requires

Keeps the heart imprisoned


What the spirit seeks
The mind will follow

When the body speaks

All else is hollow


I'm just an angel
Driving blindly

Through this world


I'm just a slave here
At the mercy

Of a girl


Oh I need your tenderness
Oh I need your touch

Oh I dream of one caress

Oh I pray too much

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Corpo Luminoso (Do Outro Lado, Quando Sou)

Custou-me vê-la assim, tão desamparada, encolhida, chorando abandonada. Mas permitir que isso sucedesse, era a única maneira de ser coerente com o Amor que sentia por ela. Tinha que aprender. Descobrir que a dor que se inflige aos outros volta a nós, inevitavelmente, e por vezes quando menos se espera. Descobrir que por maior que sejam as mágoas, a revolta que se carrega, mesmo que isso pareça cegar e tolher toda a vontade de confiar e acreditar, não devemos jamais descarregar em quem nos estende a mão. No entanto, não deixas em momento algum de ser a criatura mais linda que o meu Universo já viu… Sentia que só podia estar ali e observá-la, que isso era o mais correcto. Um dia saberás da tua Condição, da Natureza da tua Alma, mas só tu poderás descobrir, ninguém o fará por ti, até lá, estarei aqui sempre que for preciso… Não me atrevi sequer a tocá-la, algo que tantas vezes fizera neste estado intermédio, desacoplado do corpo. Quantas vezes a abracei em momentos de angústia no escuro, como aquele, sem que ela fizesse a mínima ideia de que era acolhida por um Espírito Angelical que ali estava e lhe era Amoroso. Esse calor retemperante que já tens sentido, que já te tem salvo, sim, sou Eu… Prostrada ao choro, adormeceu de exaustão. Amo-Te para além dos limites do corpo, minha Querida…

Pestanejei, pisquei, tremeluzi, e saí do seu quarto cujo tecto tinha pintado um céu estrelado. Dei comigo no meio de uma rua movimentada da Cidade. Desfrutando da maravilha de não ter um corpo, deixei-me vaguear ao sabor das interacções. Olá!... Uma criança viu-me e riu descontroladamente de ingénua alegria, sem que os pais percebessem porquê. É agora, do Beijo de Olhares aos Lábios que Beijam… Um casal apaixonado sentiu o alento da minha presença e num uno arrepio se enlearam ainda mais. Força, companheiro, vai em frente!... Soprei ao ouvido de um homem maduro e no momento decidiu-se finalmente a largar tudo e partir, estugando a passada temente mas aliviado. Pestanejei, pisquei, tremeluzi, e saí do meio daquele lago de gente. Rumo à Paz Quintessencial… Dei comigo no Jardim dos Sete Suspiros. A cúpula de árvores. As corujas. Deste lado o seu canto é ainda mais belo. E elas vêm-nos. A mim e a todos os Corpos Luminosos que aqui se reúnem para o Concílio de Amor. Paulatinamente, sobe e desce, fiquei pairando sobre o relvado, misturando-me com o seu cheiro que deste Lado é tão encantadoramente diferente, sobrepujando a delícia e o frescor. Flutuei, nesta forma de puro Amor. Flutuei, flutuei, e flutuei… Durante toda a noite, flutuei na cadência da maré dessa Dança Angelical…

Pestanejei, pisquei, tremeluzi, e voltei ao quarto, ao corpo, caindo no adormecimento da matéria. Sonhos Serenos, Sonhos Plenos…

Hummm!?!??... Qualquer coisa cutucando a minha face, puxando-me os cabelos com gentileza. O quê?... A gata a rondar-me a cabeça entre miares e ronronados. Já sei, já sei, queres que me levante… A persiana atipicamente entreaberta devassa o quarto à luz matinal que já o inunda quase por completo. Sem qualquer tipo de recordação de sonhos ou imagens, acordo com aquela sensação de que terei andado de um lado para o outro durante toda a noite. Pés no chão. Triunfal, a gata sai disparada para a cozinha. Bom dia para ti também... Desperto o rosto e a nuca com água fria. Inspiro e expiro profundamente. Sento-me em meio Lotus e começo o dia com meditação. Eu Sou…





“She taught me to play the piano, and what it meant to miss somebody.”

Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Quem me salve (Tu?)

É verdade… Eu, o Super-Herói, preciso de alguém que me salve. Do quê? Do Mundo de Mim. Por isso venha quem me salve. Tu? Talvez…

Mas para isso tens que Entrar. Queres? Serás capaz?…

Distante do lar a que me habituei, privado do meu idioma natural por um esquecimento que me foi induzido, aqui numa Terra onde pouco ou nada se entende. Porquê? Porque quase ninguém atinge que a solução está numa cambraia tecida de Toque e Silêncio Elaborado.

Procurei a linguagem da ausência de palavras em ti e encontrei um reflexo do teu rosto estampado sobre uma paisagem em movimento. Formidável. Conheço-te. Já fomos um do outro, mas não sou de dar importância a coisas passadas. Agora somos, tão-somente. No entanto, sei que não há frio que possa resistir ao temperamento das linhas que abainham tuas feições.

Não é que se possa dizer que te Amo à distância, porque se o Universo é um Oceano só, então eu sou parte de ti. Qual? Essa mesma, que se torna melífera, que se propaga por todo o teu corpo quando estremeces até perder a noção de Ser.

Anda vem. E sê o final feliz do início da mais insondável das estórias, a Nossa.

Porque… Eu, o Super-Herói, preciso de alguém que me salve.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Vulnerabilidade (Sinal de Morte)

Toma, estou aqui! Faz de mim o que quiseres. Mas tem cuidado, porque aquilo que fizeres comigo é o que fazes com a parte de ti que é um espelho de mim. Não tenhas receio, sabes que te Amo. E se isso é assim, então há pelo menos uma parte de Ti que se Ama. Não é bom? Claro que sim, claro que é.

Perguntas-me, qual será o meu Sinal de Morte? Todos temos um. Há quem tenha escolhido uma Borboleta. Também já houve quem elegesse um Beija-Flor. Mas na verdade, e lirismos à parte, o Sinal é sempre algo de profundamente Íntimo, que muitas vezes escapa até ao próprio detentor ou detentora da senha. Mantém a vigilância. O Sinal da Morte é o mais importante detalhe, identificá-lo significa a possibilidade de saber morrer, renascer, viver e voltar a morrer ou de simplesmente Acordar, se for esse o Anseio.

Junta-se a Vida e a Morte, e têm-se um Orgasmo.





“Your life is defined by its opportunities... even the ones you miss.”

Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Esta noite vou Morrer (Obrigado)

Pronto…

Que boa noite esta para se morrer, fria e longa. Não tenho medo, sinto-me bem. Podia ter feito melhor, é verdade, mas fiz o que pude. Já chorei o que tinha a chorar, também ri o que havia para rir. Agora é viver até à última gota esta experiência que se aproxima do seu apogeu. É claro que já a tinha pressentido, a pessoa sabe sempre, mas agora estou a vivê-la, e isso muda o cenário por completo. Que a morte se viria a revelar a experiência máxima de Vida era mais do que previsível… Acima de tudo, sinto uma tremenda Aceitação, depois, um grande desejo de partir, Felicidade. É importante que se perceba, não se trata de uma vontade de fugir ou uma ânsia mórbida de morrer. Não. É um desejo de respeitar a Vida e partir desta casa que deixou de poder suportar os ensejos da Alma, e rumar a novas paragens, ver novas paisagens. Já nem o corpo dói, porque já não o sinto. Peguei-o de empréstimo e nem sempre o desfrutei, mas tive muito respeito e quase sempre gratidão. Concedeu-me a possibilidade de me expressar. “Toma, estou aqui, faz comigo o que quiseres, porque sou um plasmado de Ti”. E o que de mais elevado fiz foi tão-somente isso, Criar e Expressar… -Me…

Que Alívio.

Por Tudo perdoo a Todos, Tudo Perdoo a Mim. Nada fica por fazer nem por dizer. Está tudo bem. Sei que pode parecer estranho, palavras de ocasião ou simplesmente a graça de um privilégio raro, mas tem apenas a ver com Estado Interior. Os outros existem, livres e independentes, mas enquanto não compreendemos o Essencial parecem aquilo que nós achamos que eles são. E neste momento consegui essa proeza de ver a Gente tal como Ela é, nem mais, nem menos. Se o Universo Eu Sou, então tudo o que vi era Eu. Ao Aceitar-me na vida que fui, tudo Aceitei. É por isso que volto a dizer… Não há mal algum, está tudo bem. Calma e Paz.

E os olhos já se me mudaram de cor. Já são só um Brilho naquela intensa tonalidade em forma de Flor…

Sei que escolhi a melhor noite para Passar. E não me vou esquecer da dica que me foi dada… “Quando conseguires parar o fluxo e o refluxo do Mar, chegaste”.

Últimas palavras?... É Bom Morrer.





“You can be as mad as a mad dog at the way things went, you can curse the fates, but when it comes to the end, you have to let go.”

Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay