Pronto…
Que boa noite esta para se morrer, fria e longa. Não tenho medo, sinto-me bem. Podia ter feito melhor, é verdade, mas fiz o que pude. Já chorei o que tinha a chorar, também ri o que havia para rir. Agora é viver até à última gota esta experiência que se aproxima do seu apogeu. É claro que já a tinha pressentido, a pessoa sabe sempre, mas agora estou a vivê-la, e isso muda o cenário por completo. Que a morte se viria a revelar a experiência máxima de Vida era mais do que previsível… Acima de tudo, sinto uma tremenda Aceitação, depois, um grande desejo de partir, Felicidade. É importante que se perceba, não se trata de uma vontade de fugir ou uma ânsia mórbida de morrer. Não. É um desejo de respeitar a Vida e partir desta casa que deixou de poder suportar os ensejos da Alma, e rumar a novas paragens, ver novas paisagens. Já nem o corpo dói, porque já não o sinto. Peguei-o de empréstimo e nem sempre o desfrutei, mas tive muito respeito e quase sempre gratidão. Concedeu-me a possibilidade de me expressar. “Toma, estou aqui, faz comigo o que quiseres, porque sou um plasmado de Ti”. E o que de mais elevado fiz foi tão-somente isso, Criar e Expressar… -Me…
Que Alívio.
Por Tudo perdoo a Todos, Tudo Perdoo a Mim. Nada fica por fazer nem por dizer. Está tudo bem. Sei que pode parecer estranho, palavras de ocasião ou simplesmente a graça de um privilégio raro, mas tem apenas a ver com Estado Interior. Os outros existem, livres e independentes, mas enquanto não compreendemos o Essencial parecem aquilo que nós achamos que eles são. E neste momento consegui essa proeza de ver a Gente tal como Ela é, nem mais, nem menos. Se o Universo Eu Sou, então tudo o que vi era Eu. Ao Aceitar-me na vida que fui, tudo Aceitei. É por isso que volto a dizer… Não há mal algum, está tudo bem. Calma e Paz.
E os olhos já se me mudaram de cor. Já são só um Brilho naquela intensa tonalidade em forma de Flor…
Sei que escolhi a melhor noite para Passar. E não me vou esquecer da dica que me foi dada… “Quando conseguires parar o fluxo e o refluxo do Mar, chegaste”.
Últimas palavras?... É Bom Morrer.
Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button screenplay
2 comentários:
E é bom viver...
Muito Bom, mesmo. :)
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