quarta-feira, 6 de julho de 2022

A Soberba de Perdoar?

- Ainda sobre a conversa de ontem.
- Qual delas?
- Acerca de perdoar e a pancada que a malta da espiritualidade tem com o "perdão".
- Sim.
- Acho que seria mais importante sabermos quando e como pedir desculpa, do que perdoar...

Ela estarreceu, muda. Nada lhe fazia mais sentido do que a frase acabada de ouvir. Numa aluvião, foi inundada pela quantidade de vezes que "perdoou" para se sentir superior, ou seja, movida de arrogância. Afinal, desconhecia o que era o perdão?

- "Perdoar" pode ser um equívoco, um acto de soberba. Eu "perdoo" porque sou melhor que tu, "toma lá". Para reconhecer que tem de se pedir desculpa, e efectivamente fazê-lo, é preciso discernimento, desapego e humildade.
- Tens razão, pedir desculpa é mais importante...
- Não sei se é mais importante, talvez seja mais premente... e libertador.

Ficou com aquele ar de Sacerdotisa em plena igreja, fitando os nossos pés, juntos, irisados pelos jogos de luminosidade para agradar a turista.

- Se calhar já me queimaram aqui... Solenizou.
- De certeza que fui eu. Motejou.
- E agora andamos a comer-nos um ao outro. Replicou
- É assim a vida. Acertou.
- As vidas, por favor, sê mais rigoroso.
- É a maneira que encontrei de te pedir "desculpa", todos os dias reteimar na impossibilidade de te agraciar com orgasmos múltiplos
- Parvalhão, não digas isso, estamos numa Igreja
- Isto de Igreja já não tem nada, agora é só mais um puteiro turístico. Bichanou.

Ela benzeu-se, fingindo-se chocada. Ele beliscou-lhe a nádega em solo sagrado, o mote para que prosseguissem com o programa de improviso.



(Irisados em Solo Sagrado, Jehoel)


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