Sentou-se e procurou o Mestre. Havia somente que aguardar, pois o chamamento já havia sido emitido. Naquele momento era de certo modo difícil ser paciente, um pouco mais do que o habitual. Era como se ainda se sentisse de alguma maneira sob a alçada daquela estranha sensação que o revirara até ás entranhas. Foi doloroso…
- Sentes-te melhor?
Sem avisar, como sempre, a voz sábia do Mestre reverberou por seu corpo adentro. Por mais vezes que o invocasse, nunca sabia quando ele ia chegar, era sempre tomado de súbito, desprevenido.
- Sim. Arrisco-me a dizer que o pior já passou.
- Arriscas bem. Assentiu suave e firme.
- O que se passou comigo, Mestre? Seus ombros ligeiramente retraídos e seus olhos impressionados retrataram com fidelidade o ímpeto que se impunha naquela pergunta.
Fez-se um compasso de espera, um momento de silêncio, como se o gérmen das palavras a sair precisasse de um naco especial de tempo para despontar.
- Quando decides salvar alguém mordido por uma cobra tens que te acautelar.
- Como assim?
- Primeiro certificas-te que a cobra já não está por perto. Caso contrário, expulsa-a para bem longe. Depois, se não te restar outra hipótese que não seja sorver o veneno a partir da ferida aberta pela mordida, tens que ter cuidado para não seres também tu contaminado.
Foi como que atingido por um raio clarividente. O vestígio de veneno que ainda o minava dissipara-se instantaneamente com esse clarão. Agora sim, tudo fazia sentido. O medo, a raiva, a angustia, os pesadelos, o desnorte. Desvendava-se toda a indescritibilidade da ruína que sentira. Havia sido contaminado pelo veneno que estivera a remover.
- Se não cuspires bem o veneno ele entranha-se subrepticiamente e afecta-te. Até que o consigas dissolver, sem a consciência disso, só te resta penar vergado ao seu efeito maléfico.
Olhou o Mestre com seriedade e uma gratidão cristalina.
- É importante que te dediques a salvar vidas, mas é ainda mais importante que te mantenhas vivo. Atende primeiro ao primado do teu propósito e depois àqueles com quem te cruzas, por mais vividas que sejam as tuas certezas acerca do seu papel no teu Caminho. Sobre isso, não te esqueças nunca, a certeza só é garantida depois de concretizada e isso é algo que vai para além de ti, está nas mãos da Criação.
A advertência fora grave. Nem por sombras tão atónito quanto isso, estava elucidado.
- Obrigado, Mestre.
Lentamente, curvou-se reverente ao Venerável Oráculo. Levantou-se para tomar seu caminho de volta.
- Escuta.
Deteve-se à chamada, expectante concentrou-se no espaço já ocupado pela mensagem que vinha.
- Lembra-te que só vale a pena correr tais riscos por quem realmente se quer salvar. Sondas a vontade e a honestidade da pessoa, depois disso basta-te um ‘sim’ ou um ‘não’ para perceberes claramente o que fazer.
Anuiu em sinal de respeito e reconhecimento. Havia percebido sem mácula o intuito do recado final. Ciente, retomou sua vereda.
- Sentes-te melhor?
Sem avisar, como sempre, a voz sábia do Mestre reverberou por seu corpo adentro. Por mais vezes que o invocasse, nunca sabia quando ele ia chegar, era sempre tomado de súbito, desprevenido.
- Sim. Arrisco-me a dizer que o pior já passou.
- Arriscas bem. Assentiu suave e firme.
- O que se passou comigo, Mestre? Seus ombros ligeiramente retraídos e seus olhos impressionados retrataram com fidelidade o ímpeto que se impunha naquela pergunta.
Fez-se um compasso de espera, um momento de silêncio, como se o gérmen das palavras a sair precisasse de um naco especial de tempo para despontar.
- Quando decides salvar alguém mordido por uma cobra tens que te acautelar.
- Como assim?
- Primeiro certificas-te que a cobra já não está por perto. Caso contrário, expulsa-a para bem longe. Depois, se não te restar outra hipótese que não seja sorver o veneno a partir da ferida aberta pela mordida, tens que ter cuidado para não seres também tu contaminado.
Foi como que atingido por um raio clarividente. O vestígio de veneno que ainda o minava dissipara-se instantaneamente com esse clarão. Agora sim, tudo fazia sentido. O medo, a raiva, a angustia, os pesadelos, o desnorte. Desvendava-se toda a indescritibilidade da ruína que sentira. Havia sido contaminado pelo veneno que estivera a remover.
- Se não cuspires bem o veneno ele entranha-se subrepticiamente e afecta-te. Até que o consigas dissolver, sem a consciência disso, só te resta penar vergado ao seu efeito maléfico.
Olhou o Mestre com seriedade e uma gratidão cristalina.
- É importante que te dediques a salvar vidas, mas é ainda mais importante que te mantenhas vivo. Atende primeiro ao primado do teu propósito e depois àqueles com quem te cruzas, por mais vividas que sejam as tuas certezas acerca do seu papel no teu Caminho. Sobre isso, não te esqueças nunca, a certeza só é garantida depois de concretizada e isso é algo que vai para além de ti, está nas mãos da Criação.
A advertência fora grave. Nem por sombras tão atónito quanto isso, estava elucidado.
- Obrigado, Mestre.
Lentamente, curvou-se reverente ao Venerável Oráculo. Levantou-se para tomar seu caminho de volta.
- Escuta.
Deteve-se à chamada, expectante concentrou-se no espaço já ocupado pela mensagem que vinha.
- Lembra-te que só vale a pena correr tais riscos por quem realmente se quer salvar. Sondas a vontade e a honestidade da pessoa, depois disso basta-te um ‘sim’ ou um ‘não’ para perceberes claramente o que fazer.
Anuiu em sinal de respeito e reconhecimento. Havia percebido sem mácula o intuito do recado final. Ciente, retomou sua vereda.
Sem comentários:
Enviar um comentário