terça-feira, 31 de março de 2009

Elementos: "Morrer" e "Renascer".

Ontem pela manhã, rapidamente, escrevi o texto anterior. Hesitei em “postá-lo”, confesso. Queria acompanhá-lo com um desenho meu: um Escorpião e uma Fénix. Num dos meus cadernos tenho um esboço de um Escorpião, mas nenhuma Fénix. Se calhar isso é porque ainda não "morri". Acho que também o achei demasiado agressivo, principalmente para quem tem a aspiração de escrever Luz, Amor e Esperança (mesmo que por mera falta de humildade).

Saí para o curso de escrita criativa na faculdade e ao chegar deparo-me com o seguinte cenário: os textos dos meus colegas de grupo versam precisamente o tema da aceitação da mudança na vida, da “morte” no sentido literal e figurativo. Coincidência!?... Sincronicidade!?... Ouço cada um ler o seu texto, e um deles é particularmente belo. Sobre um homem que se liberta (“como uma leve folha outonal”) no momento da morte, depois de viver o processo de doença terminal. Os textos são discutidos e há pensamentos que ocorrem, frases que são partilhadas. A sessão termina e sigo para a cantina, mas com a Mente e o Coração no que se passou. Procuro uma mesa vazia e assento o tabuleiro com a refeição. Afasto-o para o lado, abro a mala, pego no caderno e na caneta e começo a escrever.

Quando nós teimamos em não escolher chega-se a um momento limite em que a Vida (Deus, para quem não se deixar perturbar) fá-lo por nós. Aí somos obrigados a “morrer” (por vezes a morrer, mesmo).
Antes disso, vamos literalmente desbaratando oportunidades na vida porque temos receio de fazer escolhas, porque não sabemos “morrer”. Falta-nos a coragem, estamos sempre no passado ou no futuro, somos incapazes de viver o momento presente.
Isso afigura-se pelo medo de darmos o salto em direcção ao desconhecido. Mesmo quando a desgraça ou a tristeza são o quotidiano, inexplicavelmente, agarramo-nos com afinco a essas condições e tomamo-las como os alicerces das nossas vidas. Agarramo-nos tão afincadamente a tudo, inclusive aos medos, porque isso traz-nos um sentido de segurança (falso, obviamente) de que os desfechos acontecem de acordo com as nossas previsões, quando no fundo somos nós a provocá-los.
Por exemplo, é bom ser rejeitada se o medo fundamental que a pessoa tem for o da rejeição, pois isso confirma as suas expectativas, porque isso diz-lhe que tem razão, que sabe ler o mundo, que tudo aconteceu tal como ela esperava que acontecesse. Ilusão, pura ilusão. Podemos influenciar, mas jamais controlar. E mesmo para influenciar é preciso saber Estar.
Por exemplo, maltratamos aqueles que nos querem bem para que depois sejamos maltratados por quem queríamos que nos acarinhasse. A base dos desencontros na vida é precisamente essa incapacidade em “morrer” para o que ficou para trás. Quando isso acontece, revelamos uma incapacidade fundamental em aprender. Ao não escolhermos nas alturas em que é suposto fazê-lo (à medida que acumulamos adiamentos e indecisões), vamos nos desalinhando progressivamente em relação ao Caminho que a nossa Alma escolheu traçar, logo em relação a nós próprios. O resultado é o mal-estar em relação a nós mesmos, logo em relação ao mundo: (consciente ou inconscientemente) estamos onde não queremos estar, vamos para onde não queríamos ir, ficamos com quem não gostaríamos de ficar.
São processos que se enquistam nas nossas vidas. Invertê-los implica assumir as tais palavras de ordem: compromisso e coragem. Compromisso é Entrega, Coragem é fechar os olhos e dar o salto em direcção ao desconhecido. E muitas vezes isso significa escolher “morrer”. Na verdade, há mesmo alturas em que temos que deixar isso acontecer. Seja para o passado, seja para uma situação, seja para alguém. Seja para isto ou para aquilo, seja para o que for.
Em Astrologia isto corresponde ao tal Processo de Escorpião: Morrer para Renascer das cinzas como a Fénix de Fogo.
É preciso saber escolher, é preciso saber “Morrer”. Eu escolho “morrer”.

Guardei o caderno. Puxei o tabuleiro para mim. Almocei.

2 comentários:

Catarina Mendes disse...

Joel, achei este texto muito importante quanto ao conteúdo. Quase tudo na nossa vida pode ser encarado como uma oportunidade de morte ou de renascimento, pelo que a reflexão sobre este tópico deveria ser central... Conduzir-nos-ia naturalmente a um viver consciente. Acho que também vou tentar escrever algo sobre isto, mesmo que não poste. Beijos

Averana disse...

Adorei, fez-me reflectir bastante. Reflectir nem é a palavra certa... revi-me imediatamente nas primeiras palavras e soube que a Vida (Deus) colocou o texto aí para mim - neste momento em que decidi pousar os olhos nele.
Obrigada! :)

Abraço