domingo, 22 de março de 2009

Amantes Felinos (Segredo Lunar).

Ninguém sabe de nós, Meu Bem. Porque somos Amantes furtivos. De mim e de ti, só tu e eu sabemos, mais ninguém. Só Ela… Sentimos o chamamento que lançamos, um ao outro, logo que o dia passa a ser uma memória da vida nocturna. Aí, qual Gato e Gata, saímos durante a noite, de telhado em telhado, sob o efeito da Luz Lunar. Porque só Ela sabe de nós. Escapamos silenciosamente, na cadência dos nossos passos insonoros, de tão subtis que são. Marchamos suavemente, pelas ruas da noite, sem deixar rasto. Somos invisíveis. Só eu te pressinto, só tu me pressentes. Só eu te sinto, só tu me sentes. Só os teus olhos podem encontrar os meus, só os meus podem encontrar os teus. Corremos levemente, esguios, um em direcção ao outro. Só a Lua sabe de nós, e nos guarda como um Sibilino Segredo seu. Um Segredo que leva consigo todos os dias quando se esconde do Sol. Deslizamos ágeis pelos labirínticos caminhos noctívagos, em sigilo, na senda um do outro. Porque além da Lua, só nós sabemos de Nós. Porque para os outros não existimos. Porque para eles somos sombras ágeis que passam velozes e repentinas enquanto dormem, pelos seus sonhos, durante a corrida que fazemos até ao nosso Encontro. Porque somos a noite vívida, em plena fruição. Mais leves e ocultos que sereno nocturno, culminamos o percurso. Pressinto-te, e tu pressentes-me. E desembocamos na nossa toca, Lugar do nosso Amor. Sinto-te, sentes-me. E nos encontramos. Só os teus olhos vêm os meus, só os meus vêm os teus. Gato e Gata, rodopiamos um ao redor do outro. Gata e Gato, embarcamos um no outro. E nos Amamos, como felinos, nessa Arte em que somos a mestria. A Arte de Amar. No pêlo um do outro, engalfinhados. Nossas Almas que se Amam dentro de seus corpos felinos. Esse Amor que fazemos, só testemunhado por nossos gemidos sensuais, interrompendo indiscretamente o cúmplice e sigiloso silêncio da noite. Nos consumamos. Somos o Êxtase… E depois do Amor, continuamos enrolados um no outro, envolvidos, ronronado. Um ronronar que descontinua sorrateiramente o emudecimento da noite, que embevecida ronrona connosco também. E assim ficamos, até o dia se começar a pressentir. Quando a primeira estrela parte, partimos nós com ela. E do mesmo modo que chegámos, abalamos e voltamos para de onde viemos. O dia amanhece. Os outros acordam. Nós adormecemos, para sonhar um com o outro, mas só até a próxima noite chegar, quando despertarmos, nocturnos, para nos voltarmos a encontrar.




Lhasa la Llorona, De Cara a La Pared

Llorando
de cara a la pared
se apaga la ciudad

Llorando
Y no hay màs
muero quizas
Adonde estàs?

Soñando
de cara a la pared
se quema la ciudad

Soñando
sin respirar
te quiero amar
te quiero amar

Rezando
de cara a la pared
se hunde la ciudad

Rezando
Santa Maria
Santa Maria
Santa Maria

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