Olho para trás e tudo parece tão familiar. Palavras assinadas mas que me são quase íntimas. Na verdade, nem sei até que ponto mesmo se tratará de um olhar em retrospectiva. Neste momento, não me parece que isso exista. A pouco e pouco vou percebendo que tudo é um fluxo contínuo, imperceptível à percepção que tenho de humano, mas totalmente consensual quando com a Alma consigo vislumbrar. E que passe dos vislumbres à visão plena. É isso que peço, de mim para mim. É isso que almejo. É isso que vou alcançar. Para então deixar de escrever. Para então simplesmente estar, e irradiar.
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Poema de Fernando Pessoa
Obrigado pelas palavras intemporais, Amigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário