domingo, 5 de fevereiro de 2017

Bom dia! (Deixando a Luz entrar…)

Manhã. Levanta-se o Demiurgo, indolente, tal como tu e eu. Deixa a Demiurga na cama, preguiçosa, afinal de contas a soirée prolongou-se acrobática até altas horas… Vai à casa-de-banho ver-se livre das naturais acumulações da noite. Na mente ainda leva fragmentos de um ou outro sonho a que assistiu. Lava o rosto, espevita.

Abre as cortinas da cozinha, recebendo o sol crescente. Primeiro bebe água, alcalina. Deixa-se assim estar, durante o tempo que lhe parece bem durar, que o Elixir Vital faça o seu efeito, que faça mover os arroios, rios e mares de que é talhado. Depois dá início à primordial refeição circadiana, coisa leve, porém generosa. Mastiga, concentrado na fusão desses sabores com a imagem dos pardais, pulando de ramo em ramo, na árvore que lhe espreita dadivosa à janela.

Sente uma mão no ombro, procura-a com a sua. Ainda quente, a Demiurga aparece semivestida com a sua camisa de dormir, curta e translúcida, desliza, posta-se a dois passos da janela e espreguiça-se matizada pelo festival de raios solares sobre a sua gloriosa efígie...
- Bom dia!
- Bom dia…

Posto este breve entrecho quotidiano, ainda crês que a tua vida, e morte, sejam diferentes das que estão reservadas aos deuses?



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