sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Subindo a Cidade das Sete Colinas (‘It’s The Journey, Not The Destination’)

A Cidade das Sete Colinas. Ruas íngremes, velhas de tantos séculos de estórias e História acumuladas. Subiam os dois a dura calçada em direcção ao anunciado miradouro. Depois haviam de entrar em mais uma das inúmeras ‘Casas de Deus’ que haviam integrado no seu roteiro da ‘Fé’. Ela arfava, dava passos pesados em profundo esforço, como se as pernas lhe pesassem toneladas. A situação desconcertou-o.
- Porque é que estás a andar tão rápido? Protestou em favor dela.
- Porque estou cansada e assim chego lá mais rápido.
- Mas assim vais ficar ainda mais estafada. Franziu todo o seu rosto perante aquilo que não sabia ser falta de discernimento ou pura estupidez. Ainda não repaste que já mal consegues respirar e andar ao mesmo tempo?
- Sim, mas se me despachar chego lá acima mais rápido para depois descansar.
- E já te ocorreu que por esse andar vais chegar lá acima tão cansada que provavelmente nem vais conseguir desfrutar decentemente o que vais encontrar? Já para não falar do que não estás a ver à tua volta?
Quais ouvidos de mercador, ela nem olhou, manteve-se rígida e linear no seu caminho, em manifesta dificuldade. Ele encolheu os ombros e remeteu-se ao silêncio. Paciência. Cada qual aprende como quer e quando quer. O tempo dela há-de chegar. Chegará assim que ela quiser.
Meu dito, meu feito. Ao chegarem ao destino ela despojou-se num banco onde ficou recobrando lentamente, como se o oxigénio todo do mundo não lhe chegasse. Ele foi à sua vida, circulando pelo pátio, gozando a vista sobre a cidade, observando as pessoas e seus movimentos ao redor. Saber andar é saber estar…


Quase toda a gente determina um ponto de destino e esquece o Caminho em si, quando esse é a única coisa que importa. Quase todos os percursos de vida, até a própria experiência da Intimidade, são engavetados nesta perspectiva de correr para obter. Criam-se expectativas em torno de pontos a atingir que não passam de ilusões, fazendo com que a pessoa deixe de viver o momento presente, esteja sempre errando algures entre o passado e um futuro que na verdade não existem, e inevitavelmente desemboque no vazio da decepção a cada vez que atinge uma dessas metas fictícias. Grande parte da ansiedade e tristeza vêm precisamente dessa percepção da vida, dessa incapacidade em ter entendimento e coragem para viver o único momento que existe, o Presente. Olhando as palavras de Dan Millman, The journey is what brings us happiness not the destination.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Espiritualismo Universalista (Perdoar)

Budismo: O ódio nunca é diminuído pelo ódio. O ódio só diminui com o amor – Esta é uma lei eterna.

Cristianismo: Se perdoares aos outros as ofensas que te fizerem, o teu Pai celeste também te perdoará a ti; mas se não perdoares aos outros, então as ofensas por ti cometidas não te serão perdoadas pelo Pai… “Senhor, quantas vezes me ofenderá o meu irmão e eu terei de perdoá-lo? Sete vezes?” E Jesus respondeu-lhe: “eu não digo sete vezes, mas setenta vezes sete.”

Hinduísmo: As pessoas de mente nobre dedicam-se à promoção da paz e da alegria dos outros – mesmo daqueles que os magoam.

Islamismo: Perdoa ao teu servo setenta vezes por dia.

Judaísmo: A coisa mais maravilhosa que um homem pode fazer é perdoar o mal.


Perdoar não é esquecer. É aceitar, compreender e transcender. Ou como me foi angelicalmente sussurrado aos ouvidos da Alma: Liberta-te das emoções de baixa vibração... Transforma a dor, o ressentimento, a angústia, a mágoa... Transformar é aceitar e compreender e não passar por cima. Não existem interruptores. Vai fundo dentro de ti e vê, sente com todo o teu corpo, espírito, mente...


(Nota: as citações de cada uma das diferentes Tradições Espirituais foram retiradas de A Divina Sabedoria dos Mestres de Brian Weiss)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Depois do Amor (Dormindo continuamos a Amar)

A luz que entra pelas ranhuras geométricas das persianas aterra em ti sob a forma de tatuagens espectrais. Aquece o teu corpo destapado pelos lençóis devorados da nossa cama. Tanta paixão que se alguém nos visse diria que nos esquecemos do Amor. Mas nada disso. Somos o Amor Apaixonado. Amorosos e Endiabrados. Voluptuosos e Concatenados.

Agora descansamos, depois de uma noite em que não permitimos aos nossos corpos pousar. De êxtase em êxtase, deixámos a carne esvair-se. E assim, fomos à Alma, lá andámos, por lá ficámos. Esgotados, estacionados, uma Alma é o que somos agora.

A tua perna sobre as minhas, tua cabeça aninhada em meu reduto. Dormimos. E do Outro Lado há quem nos observe em puro deslumbro, quem nos Celebre, por tudo o que Celebramos durante toda a Noite.

Agora, é esse o Silêncio que se faz, em reverência aos Amantes Extáticos. Nós, que dormimos, depois do Amor, continuando a Amar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Beijo Sândalo (Corpos de Energia em Amor)

Quando a noite já é senhora. Eterifico-me e vou até Ti. Rodopiando ao redor de tua silhueta, toco-te como uma brisa energética que te despe. Aceito o convite, assento em teu corpo, e perpasso-te como água ensopando os interstícios da terra. Misturamo-Nos. Sentes, sim, Sentes. Sou Eu. Acaricio-te a Aura. Toco teu Lótus de Cores Vibráteis. Dou-te um Beijo de Sândalo no âmago de tua Intuição. E despontas então do teu sono para um Sonho. Eterificas-te, e Somos. Rodopiamos, pura Energia, Imiscuídos em Amor.

domingo, 17 de outubro de 2010

(Sete Suspiros) Conversando com as Árvores

Jardim dos Sete Suspiros. Um tapete de grama protegido por uma escolta de árvores seculares. São tão antigas que dominam todos os idiomas dos homens que por ali passaram. Porque os homens, esses, são efémeros apesar de suas Almas Eternas…

De um lado o portão confinado entre muros reforçados por arbustos esculpidos. Do outro um palácio branco, que á noite ganha a miríade de tons arremessados pelos holofotes toscos que projectam sobre ele sua luminosidade artificial. A Luz propaga-se infinitamente. Não obstante meus olhos vejam feixes finitos, minha Alma capta integralmente essa infinitude, pois é feita dela…

Os passos que se desejariam mudos são ruidosos, denunciados pelo crepitar das primeiras folhas caídas. As mais frágeis, poder-se-á pensar, pois pereceram ao sopro premonitório do Outono. Se isso faz delas as mais fracas não é a mente do homem que o dirá, nem a da mulher, só a de Deus residente no interior de cada um desses, mas massivamente esquecido. Não há como deixar de pisá-las, na verdade, não há essa intenção sequer. É uma maneira legítima de quebrar o emudecimento que subjaze imperial ao ténue vento que ali sopra. O Espíritos que aqui pululam segredam-me Orações ao ouvido, e por isso me arrepio…

Sento-me nas escadarias que dão de frente para o gramado. Mentiria se dissesse que a pedra está fria. É simplesmente pedra, nada mais que isso. A natureza não se reprime e é bem verdade, pois entre os lanços de escadas, correntezas de musgo e pequenas flores miniaturizadas irrompem compondo uma tela que é linda de viver pelo óbvio do seu paradoxo. Mas como é noite dormem, as pétalas fecham-se tapando a corola, formando uma concha floral que neste preciso momento pode até estar a Sonhar…

Mas o que fecha a Cúpula que aqui se manifesta é a escolta de árvores. São entidades atentas, contadoras de estórias. Mas quase ninguém as consegue ouvir. Tempos houve em que muitos tinham essa capacidade. Hoje não é assim. Hoje o ruído é tanto que as pessoas não conseguem ouvir os seus próprios pensamentos, quanto mais a Sabedoria Arborescente. Por isso, elas resguardam-se num silencioso secretismo para esses surdos que só é pena não serem também mudos. Mas eu que a cada dia caminho para me libertar da cegueira e da surdez ouço sussurros que ainda não sei interpretar…

E são essas folhas caídas que ao se quebrarem anunciam através de faíscas de som o advento do Outono. É chegada a altura de morrer. Parece claro que é isso que venho aqui procurar, convidar a morte a levar tudo o que é defunto em mim. Plutão, Arcanjo da Morte. Venho aqui para morrer… Que ‘eu’ morra, para então Renascer.

(Sete Suspiros pela Noite, Jehoel)

domingo, 3 de outubro de 2010

Elementos: Da Representação à Acção

Um dos maiores problemas do ser humano tem sido a dificuldade em passar da representação à acção. Uma grande parte da humanidade ainda não percebeu que isso é um ponto fundamental. A representação só faz sentido se for conscientemente encarada como sendo um ponto de transição, um momento de preparação para a aquisição de experiência.

O ritual do baptismo católico é um exemplo disso mesmo. É uma ‘brincadeira’ um acto inócuo porque não passa da representação de algo maior, refiro-me a um Iniciação mística com verdadeiras implicações físicas, psíquicas e espirituais.

Outro exemplo é a mitra do papa que não é mais do que uma representação do halo energético emitido pelo chacra de coroa identificado nos seres Iluminados. Neste caso concreto, temos a figuração da Iluminação sem a sua efectivação.

Assim, grande parte da Humanidade, ao longo do tempo, tem vindo a ‘brincar às coisas’ em vez de se ‘fazer as coisas’.

Elementos: A Mente como a Retina

Quando olhamos para o Sol ficamos com uma mancha gravada na retina. Façamos o que fizermos, tenhamos os olhos abertos ou fechados, essa impressão permanece durante algum tempo antes de naturalmente desaparecer.
A nossa mente é semelhante, funcionando tal e qual um órgão sensorial. É uma película sensível que regista todos os movimentos internos e externos sob a forma de pensamentos. Esses ficam gravados nela com maior intensidade quanto maior for a emoção associada aos mesmos. É fundamental perceber isto: a emoção é o combustível que alimenta os registos mentais.

A partir daqui entende-se a lei da atracção, porque é neste princípio que assenta: os pensamentos que alimentamos com emoção (seja negativa ou positiva) permanecem registados mais tempo nessa fina película atraindo a sua semelhança. Ou seja, os pensamentos residentes na mente funcionam como navegadores de bordo que conduzem a pessoa à manifestação da sua equivalência no mundo físico. Quanto maior for a carga emotiva, mais rapidamente seremos conduzidos (de coincidência em coincidência) à concretização do teor dos pensamentos que alimenta.

Depois de compreender isto seguem-se dois passos. O primeiro é repolarizar o negativo em positivo. O segundo é a Libertação: reconhecendo que negativo e positivo são duas faces da mesma moeda, uma moeda que em última análise não existe, deixa-se de dar atenção aos pensamentos, sejam eles quais forem; tal como as manchas de radiação solar na retina, naturalmente desaparecerão sem que por isso se dê conta.