No lusco-fusco. Aportado na estabilidade de um muro à beira mar. Fico atento ao voo do morcego. A criatura descreve trajectórias verdadeiramente sinuosas, mudando de rumo tão repentina como inesperadamente. Com quantos morcegos me terei eu cruzado na vida, até me ter habituado ao modo como voam? Continuei a observar o mamífero alado, num cenário já rugosamente clareado por um sol-posto. Quantas vezes me terei deixado ludibriar pelo desconcerto das suas rotas previsivelmente imprevisíveis? … Aprendizagem, no fundo tudo se resume a aprendizagens. Não há que julgar, ter mágoas ou ressentimentos, ou estaremos a semear jardins de silvas dentro de nós. Não quero isso… Nunca quis… Há que ser paciente, tolerar. Há que compreender, pois a Compreensão é um passo necessário para se Amar. Assim seja… A criatura passa perto de mim, quase rente aos meus pensamentos, como se os tivesse captado no seu sonar. E volta a descrever uma mudança repentina de rumo no seu esvoaçar. É a natureza do seu ser… Não obstante, o morcego acaba muitas vezes, quase sempre, vítima da sua própria previsível imprevisibilidade. No vício arraigado de enganar e surpreender os outros com a sinuosidade das suas trajectórias incoerentes, acaba por se fintar a si próprio, embatendo onde não contava esbarrar. Só porque se esqueceu de olhar em frente, na ânsia de só querer fintar…
Sem comentários:
Enviar um comentário