Sentavam-se juntinhos e apertadinhos, num banco secreto ou perdido, pois o que será um segredo senão uma verdade perdida, algures nas escarpas que ligam a Aguda ao Magoito. Nem o frio de um dia limpo de Novembro, no Hemisfério Norte, os demovia de, juntos, serem dois corpos calefactores.
- Tive um sonho em que vi cores que nunca havia visto. Cores que não sabia sequer existirem. O sonho continuava e vinha uma efígie de luz que irradiava em todas as direcções, traçando linhas multiplicantes numa espécie de Céu reverberante...
- Isso parece mais uma Visão do que um mero sonho…
- Não sei…
Do registo onírico ao da vigília, terá sido um ápice. Com o ocaso instalou-se aquilo que eles, no seio da sua intimidade, apodavam-de “Pinturas no Céu”. Nuvens majestosas, explodindo jogos de tonalidades que não se coadunavam com os conceitos ordinários de realidade.
- Às vezes as nuvens não parecem reais, estampam o céu como se pinturas fossem. Acaso as visses numa tela, ou num filme, não hesitarias em afirmar que eram fictícias, mas vendo-as aqui, no mundo real, tens que as aceitar como reais.
- E serão mesmo reais? Será isto o real?
Espraiaram-se com o eco da pergunta, quedos no seu banco com vista para dimensões paralelas. De facto, o que lhes garantia que o que viam era, efectivamente?
(Pinturas? | Jehoel)
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