- Às vezes não sei bem onde estou. Queixou-se tão deliciosamente feminina.
- Tu estás onde estiver a tua mente. Respondeu lacónico.
Ela ficou calada, esfregava as mãos, uma na outra, na tentativa de resistir ao frio da respiração arbórea que gerava a atmosfera daquele recanto de bosque com vista para o horizonte e que tinham escolhido para caminhar e conversar. Ele reforçou o aconchego do cachecol ao redor de seu pescoço, cobrindo parcialmente seu queixo.
- Para dizer a verdade às vezes não gosto lá muito quando pareces um profeta ou um daqueles mestres, sei lá…
Os passos sincronizados dos dois sobre a terra húmida que assim emanava o seu cheiro, era o que se ouvia, como se fossem só eles e a cadência de seu andar sob o albergue contínuo das copas das árvores.
- A tua mente funciona como um órgão reflexo, reage ininterruptamente, está em constante movimento, sempre que ela se expande numa direcção deves tomar consciência e voltar a ti, porque tu não és a tua mente. A chave é essa, não te identifiques com a tua mente porque tu não és ela. Enquanto não inverteres isso serás instrumentalizada por ela, quando por natureza é ela o instrumento.
Com as suas palavras haviam saído nuvens de vapor de água de sua boca, reflexos de um dia de Inverno, anunciando o calor que brotava de seu Íntimo, prova de que falara desde sua Alma. Aos olhos dela nem por isso, mas à luz de seu Coração de mulher, quase jurava que tais nuvens haviam tomado as formas das palavras que materializaram.
- Onde estou eu agora, meu bem? A pergunta saíra-lhe já imbuída de compreensão, fruto do entendimento, quase como que um suspiro, pedindo somente um pouco mais de esclarecimento.
- Se a tua mente estiver numa pessoa, é com ela que estás e não contigo. Se a tua mente estiver numa situação, é aí que estás e não no teu aqui. Se a tua mente estiver no passado, é nesse tempo já extinto que estarás a viver e não no agora. Se a tua mente estiver no futuro é nessa projecção que existirás e não no teu imediato.
- Então e… onde é que devo estar? Postou já ciente da resposta, mas apenas por querer ouvi-la pela voz daquele homem.
- Em ti, no teu corpo. No presente, no agora, neste preciso instante.
Com Força de Espírito, ela deu-lhe a sua mão, procurando entrelaçar os seus dedos com os dele. Assim foi. De mãos dadas por dedos entrelaçados, prosseguiram sua lenta e meditativa marcha pela floresta.