domingo, 19 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Tara (Estrela)

Num gesto de pesar face ao profundo sofrimento inerente ao samsara, o Buda da compaixão, Avalokiteshvara, brotou uma lágrima em cada um dos seus olhos. Diz-se que essas lágrimas ao caírem formaram um lago, do fundo do qual emergiu uma Flor de Lótus em botão. Quando esta despontou, do seu interior irrompeu uma encantadora divindade feminina.

Assim nasceu Tara, que em sânscrito significa “Estrela”.

Diz-se que Tara é “da cor da Lua”, mansa, sorridente, esbelta, e irradia a luz de cinco cores.

O Voo do Morcego

No lusco-fusco. Aportado na estabilidade de um muro à beira mar. Fico atento ao voo do morcego. A criatura descreve trajectórias verdadeiramente sinuosas, mudando de rumo tão repentina como inesperadamente. Com quantos morcegos me terei eu cruzado na vida, até me ter habituado ao modo como voam? Continuei a observar o mamífero alado, num cenário já rugosamente clareado por um sol-posto. Quantas vezes me terei deixado ludibriar pelo desconcerto das suas rotas previsivelmente imprevisíveis? … Aprendizagem, no fundo tudo se resume a aprendizagens. Não há que julgar, ter mágoas ou ressentimentos, ou estaremos a semear jardins de silvas dentro de nós. Não quero isso… Nunca quis… Há que ser paciente, tolerar. Há que compreender, pois a Compreensão é um passo necessário para se Amar. Assim seja… A criatura passa perto de mim, quase rente aos meus pensamentos, como se os tivesse captado no seu sonar. E volta a descrever uma mudança repentina de rumo no seu esvoaçar. É a natureza do seu ser… Não obstante, o morcego acaba muitas vezes, quase sempre, vítima da sua própria previsível imprevisibilidade. No vício arraigado de enganar e surpreender os outros com a sinuosidade das suas trajectórias incoerentes, acaba por se fintar a si próprio, embatendo onde não contava esbarrar. Só porque se esqueceu de olhar em frente, na ânsia de só querer fintar…

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Canto do Melro.

Era já madrugada. 01:01… 02:02… 03:03… 04:04… De capicua em capicua, a conversa foi-se prolongando. O sono começava a instalar-se e como tal as palavras começavam a tropeçar lânguidas umas nas outras. Está na hora… O mais curioso é que ao longo da conversa, um melro tinha estado o tempo todo a cantar. Como que compondo a banda sonora à súmula dos momentos. Não sabia que os melros cantavam de noite… Despedimo-nos. Dei-lhe um abraço e um beijo na testa. Certifiquei-me da sua entrada, salva e segura, pela portada. Vi o seu derradeiro aceno já no topo do alpendre. Voltei-me e segui para o carro. Rumei a casa, sempre com o canto do pássaro nas arcadas da mente. Ecos de um chilrear que soou no tom com as minhas palavras… Ao chegar, quando saí para me dirigir ao prédio, na árvore ao meu lado, um melro a cantar. Detive-me. Será?... Inevitavelmente pasmei perante a continuidade da tal banda sonora e perguntei-me se seria possível tratar-se do mesmo melro. Quem sabe… Prossegui meus passos em direcção ao sono até deixar de o ouvir, logo após o fechar da porta de entrada atrás de mim.

domingo, 5 de abril de 2009

Nessun dorma

Nessun dorma! Nessun dorma!
Tu pure, o, Principessa,
nella tua fredda stanza,
guardi le stelle
che tremano d'amore
e di speranza.
Ma il mio mistero è chiuso in me,
il nome mio nessun saprà!
No, no, sulla tua bocca lo dirò
quando la luce splenderà!
Ed il mio bacio scioglierà il silenzio
che ti fa mia!
(Il nome suo nessun saprà!...
e noi dovrem, ahime, morir!)
Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vincerò!
vincerò, vincerò!

terça-feira, 31 de março de 2009

"Present Tense"

(Medo da Vida? Medo de Viver?...)




Do you see the way that tree bends?
Does it inspire?
Leanin' out to catch the sun's ray
A lesson to be applied
Are you getting something out of this?
All encompassing trip

You can spend your time alone
Redigesting past regrets, Oh
Or you can, come to terms and realize
You're the only one who cannot forgive yourself, Oh
Makes much more sense to live in the present tense

Have you ideas on how this life ends?
Checked your hands and studied the lines?
Have you the belief that the road ahead
Ascends off into the light?

Seems that needlessly it's gettin' harder
To find an approach and a way to live
Are we gettin' something out of this
All encompassing trip

You can spend your time alone
Redigesting past regrets, Oh
Or you can come to terms and realize
You're the only one who cannot forgive yourself, Oh
Ah, makes much more sense to live in the present tense

Elementos: "Morrer" e "Renascer".

Ontem pela manhã, rapidamente, escrevi o texto anterior. Hesitei em “postá-lo”, confesso. Queria acompanhá-lo com um desenho meu: um Escorpião e uma Fénix. Num dos meus cadernos tenho um esboço de um Escorpião, mas nenhuma Fénix. Se calhar isso é porque ainda não "morri". Acho que também o achei demasiado agressivo, principalmente para quem tem a aspiração de escrever Luz, Amor e Esperança (mesmo que por mera falta de humildade).

Saí para o curso de escrita criativa na faculdade e ao chegar deparo-me com o seguinte cenário: os textos dos meus colegas de grupo versam precisamente o tema da aceitação da mudança na vida, da “morte” no sentido literal e figurativo. Coincidência!?... Sincronicidade!?... Ouço cada um ler o seu texto, e um deles é particularmente belo. Sobre um homem que se liberta (“como uma leve folha outonal”) no momento da morte, depois de viver o processo de doença terminal. Os textos são discutidos e há pensamentos que ocorrem, frases que são partilhadas. A sessão termina e sigo para a cantina, mas com a Mente e o Coração no que se passou. Procuro uma mesa vazia e assento o tabuleiro com a refeição. Afasto-o para o lado, abro a mala, pego no caderno e na caneta e começo a escrever.

Quando nós teimamos em não escolher chega-se a um momento limite em que a Vida (Deus, para quem não se deixar perturbar) fá-lo por nós. Aí somos obrigados a “morrer” (por vezes a morrer, mesmo).
Antes disso, vamos literalmente desbaratando oportunidades na vida porque temos receio de fazer escolhas, porque não sabemos “morrer”. Falta-nos a coragem, estamos sempre no passado ou no futuro, somos incapazes de viver o momento presente.
Isso afigura-se pelo medo de darmos o salto em direcção ao desconhecido. Mesmo quando a desgraça ou a tristeza são o quotidiano, inexplicavelmente, agarramo-nos com afinco a essas condições e tomamo-las como os alicerces das nossas vidas. Agarramo-nos tão afincadamente a tudo, inclusive aos medos, porque isso traz-nos um sentido de segurança (falso, obviamente) de que os desfechos acontecem de acordo com as nossas previsões, quando no fundo somos nós a provocá-los.
Por exemplo, é bom ser rejeitada se o medo fundamental que a pessoa tem for o da rejeição, pois isso confirma as suas expectativas, porque isso diz-lhe que tem razão, que sabe ler o mundo, que tudo aconteceu tal como ela esperava que acontecesse. Ilusão, pura ilusão. Podemos influenciar, mas jamais controlar. E mesmo para influenciar é preciso saber Estar.
Por exemplo, maltratamos aqueles que nos querem bem para que depois sejamos maltratados por quem queríamos que nos acarinhasse. A base dos desencontros na vida é precisamente essa incapacidade em “morrer” para o que ficou para trás. Quando isso acontece, revelamos uma incapacidade fundamental em aprender. Ao não escolhermos nas alturas em que é suposto fazê-lo (à medida que acumulamos adiamentos e indecisões), vamos nos desalinhando progressivamente em relação ao Caminho que a nossa Alma escolheu traçar, logo em relação a nós próprios. O resultado é o mal-estar em relação a nós mesmos, logo em relação ao mundo: (consciente ou inconscientemente) estamos onde não queremos estar, vamos para onde não queríamos ir, ficamos com quem não gostaríamos de ficar.
São processos que se enquistam nas nossas vidas. Invertê-los implica assumir as tais palavras de ordem: compromisso e coragem. Compromisso é Entrega, Coragem é fechar os olhos e dar o salto em direcção ao desconhecido. E muitas vezes isso significa escolher “morrer”. Na verdade, há mesmo alturas em que temos que deixar isso acontecer. Seja para o passado, seja para uma situação, seja para alguém. Seja para isto ou para aquilo, seja para o que for.
Em Astrologia isto corresponde ao tal Processo de Escorpião: Morrer para Renascer das cinzas como a Fénix de Fogo.
É preciso saber escolher, é preciso saber “Morrer”. Eu escolho “morrer”.

Guardei o caderno. Puxei o tabuleiro para mim. Almocei.

Elementos: Do Escorpião à Fénix.

Tu só sabes destruir, não sabes construir. Tu és aquela criança que na praia anda com um sorriso maquiavélico a demolir os castelos de areia dos outros. Posto isto, espanta-te que somente tenhas encontrado o que até hoje encontraste? Mesmo que até isso tenhas dificuldade em ver? Não te admires, pois esse é o resultado da tua postura.

Depura-te. Deixa que teus olhos se abram. Redime-te primeiro perante ti, depois perante os outros. Nem que para isso seja preciso morrer.

A destruição só faz sentido se acontecer para criar a plataforma para se construir algo melhor e maior.

A morte só faz sentido se acontecer para renascer. O Escorpião só se cumpre se morrer para ressuscitar transmutado em Fénix.
De outro modo, ferrará os outros enquanto esses houverem, e ferrar-se-á quando esses deixarem de estar ao seu redor.

domingo, 29 de março de 2009

Papoila Violeta

Passo após passo, vinha sintonizado nos pensamentos. E eis que me deparo com algo que nunca tinha visto até ao dia de hoje, uma Papoila Violeta. Senti que nos havíamos chamado um ao outro. Quando era miúdo brincava num longo campo de feno, matizado pelas Constelações de Papoilas Vermelhas e Boninas. Dias intermináveis de Verão… À noite adormecia num consolo cansaço de criança… É das memórias mais belas e vivas que tenho… Mas nem nesses tempos de cores e matizes vibrantes alguma vez vira uma Papoila Violeta... Segui para casa. Peguei na máquina fotográfica e voltei ao local. E muito embora a tenha guardado na Alma, tirei-lhe uma foto.





Violeta é a cor do Chacra da Coroa, aquele que desperta a nossa Consciência e nos liga a outras dimensões. É a cor da Alquimia Interior, da transmutação, da transformação.