Repórter da Alma | Corval | Horizonte Crescente

Estrada M514. Esbatida pelo crepúsculo alvacento, deveras alentejano, a recta estende-se intérmina. A coisa começa a acontecer. Há poucas sensações tão maravilhosas como o Horizonte crescendo à nossa frente. Falei na primeira pessoa do plural, eu sei. Não que me queira apropriar de ti ou dos teus sentires. Quererei unicamente, e num instante de assumido apego, remexer o teu Lume.

(Estrada M514 | Jehoel)

 

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A "Arte de Encaixar Sombra e Luz"

Aventa-se uma "Arte de Encaixar Sombra e Luz"?

Seja "Arte" ou não, tenta-se.

(Encaixar | Jehoel)

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Onde estão os Artistas? Última chamada.

Ó da Gente! Última chamada antes da consumação desta alhada:

Onde estão os artistas que deviam trazer arte para se abrir o coração? Descurando o iminente Cataclismo, porfiam só ao serviço do narcisismo?

Ó da Gente!

(Quem quererá Provar deste Coração? | Jehoel)

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Das poesias que escrevo?

As poesias que escrevo em linhas?

Não são minhas, não as subscrevo.

Desenganado, ando aqui a mando, com um corpo emprestado.

(Poesias em Linhas | Jehoel)

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Repórter da Alma | Discernimento | Acima das Nuvens

Acima das Nuvens, o Vigia contempla. E o Grande Espírito se lhe sussurra: Porque meditas? Não medites! E se te dissesse que a meditação já voga dentro de ti, fora de ti, que Está? Estás? Sê a Meditação.

(Acima das Nuvens, Jehoel)

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Ela (avatāra)

Cabelos ondulados, quais desejos

A pele anilada, cor de atmosfera electrizada

Ensejos concertados

Soprou-se um ar, Profetisa volátil, infundindo o horizonte crepuscular como uma brisa, (in)táctil

Sendo uma Sacerdotisa, conseguia operar desta magia, e mais, e mais, e mais...

Meditei, seria ela o avatar com quem sonhei casar?

(Ela, avatāra | Jehoel)

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Parar, Encostar, Repousar... (Embalar)

Só porque se exige que paremos, encostemos e repousemos...

De nada vale especular se será, porquanto, o que virá, estando (já) a vir, virá.

Que a rendição nos embale...

(Descansar, Jehoel)

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O Diálogo do "Dueto Insueto"

O caos social fantasiado de civilização, as desconcertantes mudanças de clima, os ventos que trazem a intimação de terramotos, um caldo que os eletrizava de agitação. Da pele aos ossos, ambos se ressentiam.

- Sinto-me soterrada.

- Acho que nos puseram a lutar contra a natureza fluida do Universo, ensinam-nos isso, as consequências saltam à vista, amiga. Estamos sempre em movimento, ou melhor, num contínuo Movimento, de inspirar e expirar, de dar e receber, de ganhar e perder, não necessariamente por esta ordem causal. Isto será a base do dilema existencial, equilibrar os pólos e vivermos neutros com a oscilação de equilíbrios e desequilíbrios, ou dissipá-los e transcender... ou não é nada destas filosofices e, então, é tudo ao molho e Fé em Deus!

Ela riu, espontânea, era bom ainda consegui-lo. Afinal de contas, o humor sempre foi e, julga-se, será a cura dos males que por aí grassam.

- Somos o "Dueto Insueto"!

- "Insueto"? Só tu para me atirares um palavrão desses.

- "Insólito, desusado"..

- Tens razão, não há mais "insólito" ou "desusado" que nós... eu gosto de rosa, tu de azul, e agora fazemos disso um segredo para não nos moerem o juízo...

- Qual juízo?

Absorviam-se na obra, magnífica, daquelas que se sente irem ganhar vida e correr, a qualquer instante, sem aviso.

- Que belas estátuas...

- Somos?

- Mais valia que deixássemos de o ser, para viver...

- Deixemos.

Piscou o olho e, antes que ela pudesse prosseguir, cingiu-a para beijá-la na fonte coberta pela cortina de cabelos dourados. Ela foi mais rápida e, virando-se, recebeu o beijo nos lábios, prolongando-o. Libertos da condição de estátuas, operavam a tão ansiada fuga, vestidos de corpos carnais. Sorriu o espírito do Anjos Teixeira, que pode assim subir, descansando sobre a missão cumprida. Quanto a eles, estafaram-se, namorando-se com as vielas da Vila, todo  entardecer. Foram mais longe, dando e recebendo-se, durante um méleo tresnoite, no quarto alugável do Estrada Velha.

(De Perseguidos a Libertos, Jehoel)

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A Soberba de Perdoar?

- Ainda sobre a conversa de ontem.

- Qual delas?

- Acerca de perdoar e a pancada que a malta da espiritualidade tem com o "perdão".

- Sim.

- Acho que seria mais importante sabermos quando e como pedir desculpa, do que perdoar...

Ela estarreceu, muda. Nada lhe fazia mais sentido do que a frase acabada de ouvir. Numa aluvião, foi inundada pela quantidade de vezes que "perdoou" para se sentir superior, ou seja, movida de arrogância. Afinal, desconhecia o que era o perdão?

- "Perdoar" pode ser um equívoco, um acto de soberba. Eu "perdoo" porque sou melhor que tu, "toma lá". Para reconhecer que tem de se pedir desculpa, e efectivamente fazê-lo, é preciso discernimento, desapego e humildade.

- Tens razão, pedir desculpa é mais importante...

- Não sei se é mais importante, talvez seja mais premente... e libertador.

Ficou com aquele ar de Sacerdotisa em plena igreja, fitando os nossos pés, juntos, irisados pelos jogos de luminosidade para agradar a turista.

- Se calhar já me queimaram aqui... Solenizou.

- De certeza que fui eu. Motejou.

- E agora andamos a comer-nos um ao outro. Replicou

- É assim a vida. Acertou.

- As vidas, por favor, sê mais rigoroso.

- É a maneira que encontrei de te pedir "desculpa", todos os dias reteimar na impossibilidade de te agraciar com orgasmos múltiplos

- Parvalhão, não digas isso, estamos numa Igreja

- Isto de Igreja já não tem nada, agora é só mais um puteiro turístico. Bichanou.

Ela benzeu-se, fingindo-se chocada. Ele beliscou-lhe a nádega em solo sagrado, o mote para que prosseguissem com o programa de improviso.

(Irisados em Solo Sagrado, Jehoel)

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