terça-feira, 15 de setembro de 2009

Superação

David Chetlahe Paladin (o seu nome verdadeiro) partilhou comigo a sua estória em 1985; morreu em 1986. É um testemunho do potencial humano de alcançar uma qualidade de poder interior que desafia as limitações da matéria física. Quando o conheci, ele irradiava uma qualidade de empoderamento que era rara, e eu tinha de saber como ele tinha conseguido aquilo que tantas pessoas procuravam conseguir. David foi um dos meus melhores mestres, uma pessoa que dominava a verdade sagrada Respeitar os Outros e que transmitiu plenamente aos outros a energia da sefirá de Yesod e do sacramento da Comunhão.
David era um índio Navajo que cresceu numa reserva durante as décadas de 1920 e 1930. Ao chegar aos onze anos, era um alcoólico. Deixou a reserva a meio da adolescência, vadiou durante uns meses, depois arranjou emprego num navio mercante. Só tinha quinze anos mas fez-se passar por dezasseis.
A bordo do navio fez amizade com um jovem alemão e com outro jovem norte-americano. Juntos viajaram por portos por todo o Oceano pacífico. Como passatempo, David começou a desenhar. Um dos temas que desenhava era as casamatas que os japoneses estavam a construir nas diversas ilhas dos Mares do Sul. Foi no ano de 1941.
Os desenhos das casamatas de David acabaram por ir parar às mãos dos militares americanos. Quando foi recrutado para o serviço militar, presumiu que continuaria o seu trabalho como artista. Em vez disso, passou a fazer parte de uma operação secreta contra os nazis. O exército tinha recrutado Navajos e outros nativos americanos para uma rede de espionagem. Os operacionais eram enviados para trás das linhas inimigas e transmitiam informações à base principal de operações militares na Europa. Por poderem ser interceptadas todas as transmissões via rádio, eram utilizadas as línguas nativo-americanas para garantir que nenhuma mensagem captada pudesse ser interpretada.
Quando David estava atrás das linhas do inimigo, foi capturado por um grupo de soldados nazis. Os nazis torturaram-no, entre outras coisas, pregando-lhe os pés ao chão e obrigando-o a estar de pé nessas condições durante vários dias. Depois de sobreviver a esse horror, David foi enviado para um campo de exterminação por ser “de uma raça inferior”. Quando o estavam a empurrar para dentro de uma carruagem sentiu uma carabina a empurrar-lhe as costelas, ordenando-lhe que andasse mais depressa. Virou-se para defrontar o soldado nazi. Era o alemão com quem David tinha feito amizade a bordo do navio mercante. O amigo alemão de David tinha feito preparativos para David fosse transferido para um campo de prisioneiros de guerra, onde passou os restantes anos da guerra. Quando os campos foram libertados, soldados americanos encontraram David inconsciente e moribundo. Transportado para os Estados Unidos, David passou dois anos e meio em coma num hospital militar em Battle Creek, no Michigan. Quando finalmente saiu do coma, tinha o corpo tão enfraquecido pelas experiências do campo de prisioneiros que não conseguia andar. Tiraram-lhe as medidas para um aparelho ortopédico e, com a ajuda de muletas, conseguia arrastar-se em distâncias curtas.
David tinha tomado a decisão de regressar à reserva, dizer um último adeus à sua gente e entrar para um hospital de veteranos e ficar lá o resto da vida. Quando chegou à reserva, a família e os amigos ficaram horrorizados com aquilo em que se tinha tornado. Reuniram-se em conselho para descobrirem como podiam ajudá-lo. Depois da reunião de concelho, os anciões aproximaram-se de David, arrancaram-lhe o aparelho das pernas, ataram-lhe uma corda à cintura e atiraram-no para as águas profundas. “David, chama teu espírito de volta”, ordenaram. “O teu espírito já não está no teu corpo. Se não conseguires chamar o teu espírito de volta, soltar-te-emos. Ninguém pode viver sem o seu espírito. O teu espírito é o teu poder.”
“Chamar o espírito de volta”, contou-me David, foi a tarefa mais difícil que jamais teve de empreender: “Foi mais difícil do que suportar que me pregassem os pés ao chão. Vi as caras daqueles soldados nazis. Vivi aqueles meses todos no campo de prisioneiros. Sabia que tinha de soltar a minha raiva e o meu ódio. Quase não conseguia impedir-me de me afogar, mas rezei para expulsar a raiva do meu corpo. Foi por isso que rezei e as minhas preces foram atendidas.”
David recuperou totalmente o uso das pernas e de seguida tornou-se um xamã, um sacerdote cristão e curador. Voltou também a desenhar e ganhou reputação de artista altamente dotado.
David Chetlahe Paladin irradiava uma qualidade de poder que parecia a Graça em si. Tendo sobrevivido a um confronto com o lado mais sombrio do poder, transcendeu essas trevas e passou o resto da vida a curar e a inspirar pessoas a “chamarem o seu poder de volta” de experiências que esgotaram a força vital dos seus corpos.

In, A Anatomia da Alma, Caroline Myss

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Postal Número 5 (De Mim para mim)

Ao chegar à porta de entrada, cumpriu com o ritual de sempre. Abriu a caixa do correio. No meio do acumulo de publicidade, havia algo novo. Pelo menos a julgar pela textura. Depois de ver com as mãos a novidade, procurou enxergá-la com os olhos. Era um postal. E não vinha identificado. Mas a magia de um postal é que basta senti-lo, uma mensagem no dorso de uma imagem, e logo se percebe de onde ou quem veio.

Postal número 5

Estou bem.
Moro no teu Coração,
Estou sempre contigo,
Porque sou a tua Alma.
Não te esqueças de mim
E jamais te esquecerás de ti
Ama-me tal como te Amo
E Amar-Te-Ás como nunca Amaste
Somos Um.

Sorriu. Um postal é um portal. Aquele mais que qualquer outro. Se não soubesse quem o escrevera, diria que se tratava de um amigo imaginário. Mas percebeu claramente que era de si para si.
Levantou-se, pegou na caneta de acetato e, no canto superior direito da imagem celeste, escreveu palavras encolhidas mas de significado imenso.

Pela noite saí do meu corpo, temporário…
Escrevi um fio de versos que dediquei a mim, Alma…
De manhã voltei e já dentro do corpo acordei…
Com o sonho vívido na mente…
Com um postal na mão…
Uma mensagem de mim para mim que trouxe de um sonho perfeito…
Obrigado.

Voltou à cama ainda quente para voltar a dormir. O postal, esse, em cima da mesa-de-cabeceira estava já enviado, remetido para o “outro lado”. Adormeceu.

domingo, 23 de agosto de 2009

"Samba do Avião"



Eparrê
Aroeira beira de mar
Canôa Salve Deus e Tiago e Humaitá
Eta, costão de pedra dos home brabo do mar
Eh, Xangô, vê se me ajuda a chegar

Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito prá mim

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão
Copacabana, Copacabana

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Pousar...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Panela de Pressão



Pressão?... Não!... É só impressão!

(Sorrio)

Elementos: Sobre a Raiva.

Li uma vez uma parábola onde Buda equiparava a raiva ao acto de se pegar numa brasa com as próprias mãos e atirá-la a alguém. Ambas as pessoas se magoam, mas quem a arremessa fere-se primeiro. Pareceu-me uma das melhores imagens para ilustrar esse tipo de emoção.

A origem da raiva normalmente reside num sentimento de mágoa que a pessoa retém por alguma razão. A partir daí a tendência é quase sempre a de se responder na mesma moeda, quer essa resposta seja conscientemente dirigida ou não. Contudo, essa atitude acaba por ser absurda pois é inegável que expressar raiva em direcção a outros para além de não ser uma solução só levará a mais ira e dor. “Se procuras vingança, então primeiro cava duas sepulturas!”, é o que diz um célebre ditado chinês a propósito da raiva e da agressão.

Porém, reprimir a raiva sem lidar com ela é igualmente nocivo. Neste sentido, há também quem se auto-agrida, engolindo as brasas ao invés de arremessá-las. Aí a cólera é interiorizada causando graves enfermidades à pessoa que se repercutem na sua saúde e relações de modo devastador.

O primeiro antídoto para a raiva é a tomada de consciência. A pessoa tem que fazer uma análise da causa desse sentimento que a toma e do modo como o expressa. Aceitar e integrar as experiências que causaram dor e mágoa, percebendo que tudo tem um sentido ‘pedagógico’ na vida, trás desenvolvimento pessoal e mais tarde libertação. Essa compreensão inevitavelmente levará à diluição da cólera, resultando em amor-próprio e num bem-estar genuíno. Em suma, passa por aprender a gostar de si tal como se é enquanto fruto das suas experiências, reconhecer a perspectiva de crescimento que as mesmas trazem.

Quando esse patamar é atingido, torna-se muito mais fácil entender os outros, até mesmo os que nos causaram dor. Compreende-se que só alguém infeliz e/ou ignorante poderá fazer o que quer que seja no sentido de nos magoar. Infeliz porque naturalmente não estará bem consigo próprio. Ignorante por descurar que toda e qualquer atitude mal-intencionada contra outrem estará sempre sujeita a um inevitável efeito boomerang: “o mal que se faz volta a dobrar”, é uma lei ‘física’.

É deste momento em diante que a pessoa começa a ter um comportamento naturalmente assente em Bondade e Compaixão. No fundo é um processo em que a pessoa tem primeiro que ser bondosa e compassiva para consigo próprio e depois para com os outros.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Descanso após a “causa-efeito” (Suspiros e Sorrisos)

- Então e agora? Perguntou o “gajo”.
- Ahhhh… Ela arrastou sua voz melódica. Agora faz o que sempre fizeste nestas alturas, miúdo.
Não querendo mover-se para que ela não se desencostasse dele, girou os olhos na direcção do cheiro dos cabelos de Garota Anjo.
- Como assim? Interrogou de sobrolho intrigado.
Ohhh! Como assim? Então não és tu que tens sempre solução para tudo!? Riu. Sei lá, arruma uma!
Tu és demais…
Eu sei! Respondeu com uma preguiça a dar-lhe estilo à pretensão.
Perante tal abuso de carisma, em circunstâncias normais seria pretexto para abanar a cabeça, porém continuava a não querer que ela saísse de seu pouso. Sentia-se tão bem, tranquilo como tudo. E ela também. Mas alguma dúvida optimista pairava à entrada daquela porta escancarada que se abrira com caminho incerto para o futuro. Tinha a Fé no seu Coração, além disso, só precisava da coragem na voz firme e meiga dela.
Mas achas mesmo que vou conseguir? Persistiu na pergunta diminuindo o tom das palavras, de modo que terminou a frase como se de um segredo se tratasse.
Claro que sim. Afirmou, fazendo questão de tirar a cabeça do colo de seu ombro, só para o olhar nos olhos. Tu consegues. Alvejou-o com aquele seu brilho do olhar. Tu consegues sempre tudo. Rematou, doce.
Ele sorriu. Beijaram-se. Um beijo garoto e gostoso. Ela voltou a encostar-se nele. Companheiros, deitaram a vista sobre o horizonte. Suspiraram os dois em uníssono. Sorriram em brinde à celebração de sua coordenada condição. Estavam tão bem um ao pé do outro, porquê mexerem-se? Ali ficaram, no calor de um abraço amoroso, sintonizados na paisagem de final de tarde. Era o seu momento, só havia que eternizá-lo. Portanto, faziam-no. Mais uma vez... A Felicidade está na Simplicidade.

domingo, 9 de agosto de 2009

"A Idade Do Céu"

Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...

Não somos o
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...

Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...

Ranhan! Anhan! Hum! Hum!

Não somos mais
Que um punhado de mar
Uma piada de Deus
Um capricho do sol
No jardim do céu...

Não damos pé
Entre tanto tic tac
Entre tanto Big Bang
Somos um grão de sal
No mar do céu...

Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
A mesma idade
Que a idade do céu...

Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah!

Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
A mesma idade
Que a idade do céu...(2x)

A mesma idade
Que a idade do céu
Calma!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Minha Nave (Departure)

E pronto. Era tudo o que precisava. Nos hangares do meu Ser, construí zelosamente esta magnífica nave. Aos comandos dela irei percorrer este Universo, o Mar de Éter, a Energia Eterna. À velocidade da Luz, terei nos versos e sons combinados a Força que a fará mover. E se tiver que parar, que seja para dar boleia, a quem queira entrar.


(Luz no Coração)

(Sorrindo)



Guitarra Y Vos, Jorge Drexler

Que viva la ciencia,
Que viva la poesia!
Que viva siento mi lengua
Cuando tu lengua está sobre la lengua mía!
El agua esta en el barro,
El barro en el ladrillo,
El ladrillo está en la pared
Y en la pared tu fotografia.
Es cierto que no hay arte sin emoción,
Y que no hay precisión sin artesania.
Como tampoco hay guitarras sin tecnología.
Tecnología del nylon para las primas,
Tecnología del metal para el clavijero.
La prensa, la gubia y el barniz:
Las herramientas de un carpintero.
El cantautor y su computadora,
El pastor y su afeitadora,
El despertador que ya está anunciando la aurora,
Y en el telescopio se demora la última estrella.
La maquina la hace el hombre...
Y es lo que el hombre hace con ella.
El arado, la rueda, el molino,
La mesa en que apoyo el vaso de vino,
Las curvas de la montaña rusa,
La semicorchea y hasta la semifusa,
El té, los ordenadores y los espejos,
Los lentes para ver de cerca y de lejos,
La cucha del perro, la mantequilla,
La yerba, el mate y la bombilla.
Estás conmigo,
Estamos cantando a la sombra de nuestra parra.
Una canción que dice que uno sólo conserva lo que no amarra.
Y sin tenerte, te tengo a vos y tengo a mi guitarra.
Hay tantas cosas
Yo sólo preciso dos:
Mi guitarra y vos
Mi guitarra y vos.
Hay cines,
Hay trenes,
Hay cacerolas,
Hay fórmulas hasta para describir la espiral de una caracola,
Hay más: hay tráfico,
Créditos,
Cláusulas,
Salas vip,
Hay cápsulas hipnóticas y tomografias computarizadas,
Hay condiciones para la constitución de una sociedad limitada,
Hay biberones y hay obúses,
Hay tabúes,
Hay besos,
Hay hambre y hay sobrepeso,
Hay curas de sueño y tisanas,
Hay drogas de diseño y perros adictos a las drogas en las aduanas.
Hay manos capaces de fabricar herramientas
Con las que se hacen máquinas para hacer ordenadores
Que a su vez diseñan máquinas que hacen herramientas
Para que las use la mano.
Hay escritas infinitas palabras:
Zen, gol, bang, rap, Dios, fin...
Hay tantas cosas
Yo sólo preciso dos:
Mi guitarra y vos
Mi guitarra y vos.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Al otro lado del rio



Al Otro Lado del Río, Jorge Drexler

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

El día le irá pudiendo poco a poco al frío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema-a Rema, rema, rema-a

En esta orilla del mundo lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Yo muy serio voy remando muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema-a Rema, rema, rema-a

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río



(Parar de remar? Nem pensar!)

(Sorrio)