Linha de Sintra. Entrar num comboio, seja a que horas for, tornou-se um exercício de tortura sensorial. É virtualmente impossível fazer uma viagem, por mais curta que seja, sem ouvir múltiplos estilos musicais, telefonemas e videochamadas, em simultâneo. As próprias conversas entre passageiros são, frequentemente, gritadas ao invés de faladas.
Com um certo medo, há quem cochiche que a maioria das vezes o barulho vem de pessoas oriundas do chamado “terceiro mundo”, com escassa ou nenhuma noção de partilha de espaço público, culturas diferentes. Não sendo integradas, porque só interessa que estejam disponíveis para trabalhar a troco de salários indignos, em condições discutíveis, e consumir acriticamente, é frequente que também não se queiram integrar, sobretudo, por narrativas pessoais ou crenças que costumam redundar na autovitimação, face à eterna vilania do Ocidente Judaico-Cristão.
Em todo o caso, também se vêm turistas, do pé descalço ao gourmet, no intercidades ou alfapendular, incorrendo no mesmo tipo de comportamentos, bem como uma o outra figura que qualquer mente, mais ou menos preconceituosa, poria na categoria de conservador.
Já para não falar no horror em dois actos e meio que pode ser cada fim-de-semana, onde o barulho começa na 6ª de noite e só pára na 2ªde manhã. Festas espontâneas na rua ou vizinhança, com música e berraria, como se não houvesse outras pessoas ao redor.
Posto isso, parece que é só mais um sinal desta insensibilidade generalizada. Dá ideia que se poderia rebentar uma bomba sonora a escassos metros dos ouvidos desta gente e nem comichão lhe faria, como se estivesse completamente desconectada do ambiente.
Esta narcisificação de uma parte da humanidade, onde o conceito de outro é redutível ás ideias de mero acessório ou irritante entrave, estará no seu apogeu, o que não augura tempos gentis.
Aliás, a par da insensibilidade, parece haver um culto ao ruído e uma repulsa ao estar em silêncio. Tudo, menos quietude. Tudo, menos sossego. Quais vampiros, aterrorizados pelo odor a alho.
Se soubessem que o ruído mata, será que mudariam a sua conduta? O egoísmo torna-os mentecaptos, sem remédio?
(Ruído | Yoel Benaiah)
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